Como é natural, recordamos sempre com gosto as duas Taças
de Portugal que já ganhámos, ambas contra o que seria de esperar, qual David lutando
contra Golias: em 1939, na primeira de todas as Taças, demos 4-3 nas Salésias a
um Benfica que nessa época nos tinha ganho já por duas vezes; e em 2012, um
Sporting emproado, que dizia ter contado as favas antes mesmo de entrar no
Jamor, não conseguiu contrariar o golo solitário imposto por uma Briosa que tinha
ficado pelo fundo da tabela no Campeonato.
Mas há uma quinta final que é muito pouco referida e da
qual também eu não me lembraria, não fora um amigo ter-me enviado as letras de
duas canções que as claques cantaram nessa altura, canções que, também elas,
foram caindo no esquecimento.
Vamos aos factos! A final foi no Jamor a 10 de Junho de
1951, fez anteontem precisamente 70 anos! Foi contra o Benfica e
perdemos pela bonita soma de 5-1.
Pela Académica alinharam Capela, Branco, Torres, Melo, José Miguel, Azeredo, Duarte, Gil, Macedo, Nana (cap.) e Bentes, sendo treinador Oscar Tellechea. Mas contam-nos o João Santana e o João Mesquita – que nestas coisas do futebol de antanho são quem mais sabe –, que os nossos jogadores estavam em péssima forma física devido à época de exames e que, para ajudar à missa, tiveram contra si uma arbitragem que a imprensa da época reconheceu ter-nos sido altamente desfavorável. Enfim, por alguma razão viemos de lá com uma abada.
Porém, nem por isso deixámos Lisboa de cabeça baixa,
depois de termos feito a festa antes e durante o jogo. «E, mesmo após a
derrota, um grupo de estudantes, encabeçado pelo inevitável Augusto Martins,
ainda teve disposição para ir visitar a redacção de “A Bola”. Fazendo tal
alarido que deixou estupefactos os lisboetas que circulavam pelo Bairro Alto,
para quem aquela gente só podia ter acabado de ganhar a Taça de Portugal»…
Enfim, era assim naquele tempo. Era assim a Académica!
Voltando às letras das canções que a claque cantou, elas
constam de um panfleto frente e verso, tipografado pela Atlântida, que foi
distribuído às claques que se deslocaram de Coimbra até Lisboa, quer em caravana
automóvel, quer em comboio especial.
De um lado do folheto temos DÁ CÁ A TAÇA, que deveria ser
cantada com música de “Larga a Mala”. Não consegui encontrar esta música, mas
admito que se tratasse de “Olha a Mala” (carregar), que aqui está interpretada
por Celeste Rodrigues em 1955.
Do outro lado do folheto temos o HINO DA ACADEMIA, que deveria ser cantado com música de “Tomara que Chova” (carregar), que aqui está interpretada por Emilinha Borba em 1950.
Rezam as crónicas que a canção mais cantada foi esta
última, cuja estrofe final é bem premonitória:
E do Estádio Nacional
A Taça de Portugal
Só a nós trazer compete
E fique toda a gente a saber
(Sempre é bom isto lembrar)
Que a história se repete.
Repetiu-se em 2012 e poderá bem repetir-se mais à frente!
Haja esperança!
Zé Veloso
PS: Depois te ter colocado este post na página do Facebook Penedo d@ Saudade - TERTÚLIA, recebi um comentário de Francisco Bento Soares, que afirma recordar-se de que seu irmão e seus colegas, quando regressados de Lisboa em 1951, cantavam a seguinte quadra: Podem emalar a trouxa / Boa noite ó tia Maria / Que a malta não ligava à Taça / Já toda a gente sabia.
Esta quadra é, obviamente, uma adaptação da conhecida quadra de 1939: São horas de emalar a trouxa / Boa noite ó tia Maria / Que a malta ganhava a Taça / Já toda a gente sabia! (quadra que chegou até nós também na versão: São horas de emalar a trouxa / Boa noite, tia Maria / Que a Briosa ganhava a Taça / Obrigado! Já cá se sabia!
- Foto da equipa retirada do livro Académica. História do Futebol de João Santana e João Mesquita.
- Fotos do folheto cedidas pelo grande academista Luís Pinheiro
de Almeida.
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