03 novembro 2011

DAS LATADAS À FESTA DAS LATAS (Parte II)

Parte II: As Latadas do início do ano lectivo. A imposição de insígnias

Vimos na Parte I deste tema que as Latadas do final do ano lectivo, coincidentes com a emancipação dos caloiros, terminaram por volta de 1935.

II.a) As Latadas do final dos anos 40 até à década de 60 

Mas como lata faz barulho e barulho é sinal de festa, as Latadas voltaram no final da década de 40, continuando pelos anos 50 e 60. Só que, desta vez, aconteciam no início do ano lectivo e estavam ligadas à imposição de insígnias: dos quartanistas que, a partir desse dia, poderiam colocar na pasta o grelo que tinham posto na lapela na Queima do ano lectivo anterior; e dos quintanistas que, tendo posto fitas na Queima anterior, podiam agora exibi-las até à Queima seguinte.

Havia quatro Latadas – Letras, Ciências, Direito e Medicina-Farmácia –, que tinham lugar às quartas e sábados à tarde, depois de terminados os exames de Outubro. Por via de regra, aconteciam por aquela ordem [1]. Os cursos de Matemáticas, Engenheiro Geógrafo e os Preparatórios de Engenharia, todos eles com insígnias de cores azul-clara e branca, alinhavam na Latada de Ciências.

Para os quartanistas grelados, os jovens lobos que iriam iniciar o seu ano de glória, a manhã começava muito cedo, com a visita ao Mercado D. Pedro V, já de grelo posto na pasta. Assim era no meu tempo (1965), como bem ilustra a foto ao lado, na qual desço a Sá da Bandeira na companhia de três colegas [2], embora o José Paulo Soares me tenha dito que no tempo dele (1958) se ia primeiro ao Mercado e só depois se colocava o grelo na pasta, no Pátio das Escolas.

Uma vez no mercado da hortaliça, comprava-se um nabo de rama farfalhuda que se metia dentro da pasta para fazer companhia ao grelo que dela "florescia" pela primeira vez. E dali saíamos a cantar uma lenga-lenga que a Academia de hoje já esqueceu, enquanto pela cidade ecoava o barulho dos Zés Pereiras e do foguetório.

Entre a malta dos anos 50 e 60 não há quem não se lembre de tal lenga-lenga, embora existam diversas versões [3]; reproduzo abaixo a letra da versão que Fernando Rolin gravou no CD Regresso de quem nunca partiu, a qual pode ser ouvida carregando aqui.  

          Meu nabo, meu grelo
          Sinto prazer em vê-lo
          Nada há mais belo que o grelo
          Que o grelo do nabo
          Que o nabo do grelo 

Ninguém questionava a razão de ser destes rituais. Mas eu coloco a questão agora: por que carga de água se chamará "grelo" à fita estreita? E que relação intrigante era esta, entre estudantes e vendedeiras de hortaliça, que levava os primeiros, no ano que representava o zénite da sua passagem por Coimbra, a ter como primeiro acto público ligado ao uso regular do grelo uma visita ao Mercado D. Pedro V?

António Rodrigues Lopes (A Sociedade Tradicional Académica Coimbrã, 1982) parece trazer-me a resposta em quatro escassas linhas: «O “grelo” seria a reminiscência de um molho de bróculos que floresceu de uma greve de hortaliceiras que a academia, solicitada, secundou. Surgiu deste modo, como símbolo heráldico de reivindicação contra a truculência da Câmara Municipal (in “À Porta Férrea”, de Serrão Faria)».

A greve a que se refere ARL ficou conhecida pela "Revolta do Grelo". Segundo, entre outros, Vasco Pulido Valente (A "Revolta do Grelo": ensaio de análise política), foi uma insurreição muito séria, que durou vários dias e chegou a envolver 10.000 manifestantes, juntando estudantes e futricas do mesmo lado da barricada. Vamos aos factos: em 11 de Março de 1903, após vários dias de contestação contra o pagamento do "imposto do selo", as vendedeiras de hortaliça do Mercado D. Pedro V entraram em greve, no que foram secundadas pelo comércio e operariado da cidade, deixando Coimbra sem abastecimento de frescos e outros géneros durante algum tempo; seguiram-se tumultos vários com intervenção das forças da ordem, vindas de fora, os quais se saldaram por quatro mortos e vários feridos entre os populares e um morto entre os soldados; a Academia reuniu, declarou-se incondicionalmente ao lado do povo de Coimbra e organizou uma recolha de fundos para auxiliar as famílias das vítimas; o Governo encerrou a Universidade a 14 de Março e determinou que todos os estudantes não residentes saíssem de Coimbra, mas poucos arredaram pé; as aulas só reabririam a 20 de Abril.

Será que a ida ao mercado era o ritual inconsciente de um encontro que se repetia, de uma aliança forjada sessenta anos atrás entre os estudantes e as vendedeiras de hortaliça? E será que a denominação "grelo" que é dada à fita estreita é alheia a tudo isso? Que cada um conclua como entender.

À tarde tinha lugar a Latada propriamente dita. Era um cortejo trapalhão, com alguns gaiteiros à mistura, que seguia o mesmo trajecto do cortejo da Queima. Para além dos grelados e fitados, de capa e batina e insígnias, desfilavam os caloiros que tivessem sido mobilizados. As greladas e fitadas seguiam na Latada, mas as caloiras, não sendo mobilizáveis, viam o cortejo do passeio. Alguns dos caloiros iam mascarados, outros de pijama ou com o casaco do dia-a-dia vestido do avesso e as calças arregaçadas, outros seguiam simplesmente à futrica. Na década de 50 ainda os caloiros arrastavam latas, mas o costume foi caindo em desuso, de tal forma que nos anos 60 o enfoque estava todo nos cartazes, e apenas alguns caloiros levavam penicos de esmalte, baixela indispensável das praxes coimbrãs.

Os caloiros, que podiam pertencer a qualquer curso, ou seguiam ao serviço de um doutor que fizesse questão de levar o seu "animal de estimação" – no meu ano de grelado levei um caloiro que me chegava um penico para aparar a cinza do cigarro e me estendia uma passadeira de cada vez que decidia ir cumprimentar alguém na assistência – ou faziam parte da legião de porta-cartazes, a função mais chata, mas também a mais digna, já que os cartazes eram o prato forte da Latada. E uma Latada se dizia boa ou má consoante a piada, a classe e o atrevimento dos seus cartazes, que criticavam de forma cáustica e humorada a vida académica, a política nacional e a cidade. [4] 

Em época de censura, tudo era dito por meias palavras, por frases cândidas que escondiam malandrice, por frases banais cujo arranjo gráfico poderia sugerir muito mais do que uma banalidade. Numa altura em que a palavra "Salazar" logo levantaria suspeitas, poderia o "sal" estar no início da frase e o "azar" andar disfarçado lá mais para diante. Os cartazes poderiam ser charadas, só decifráveis quando lidos em conjunto. Aí, a censura, que os tinha visionado por outra ordem antes do cortejo se iniciar, não encontrava forma de os censurar. Era para apreciar este pratinho que muita gente saía à rua para ver as Latadas!

À noite a festa terminava no Tetro Avenida, já que os seus proprietários deixavam entrar à borla grelados, fitados e caloiros mobilizados, numa balbúrdia tremenda, um autêntico salve-se quem puder na busca de um lugar. O Avenida ficava cheio que nem um ovo, do galinheiro às coxias. Enquanto decorriam os documentários, ainda os porteiros tentavam controlar as entradas; a seguir, mal rugia o Leão da Metro, a malta que ainda estava cá fora, como que galvanizada pelo ronco do bicho, logo fazia saltar os porteiros do lugar antes que fossem as portas a saltar dos gonzos.

O filme era quase sempre mauzinho, ainda que, na minha Latada, tenha sido o West Side Story, que nos deixou mudos de espanto, até o Richard Beymer (Tony) começar a cantar «Maria, Maria, Maria». Aí chegados, alguém do galinheiro pediu uma bolachinha e estalou a gargalhada geral… Ai, aquele galinheiro! Empoleirados junto ao tecto, mal enxergavam o ecrã. Mas quando aparecia um decote mais generoso, logo um malandreco gritava para a plateia que dali é que se via tudo...

Haveria serenatas aquando das Latadas?

Não me recordo de haver serenatas por altura das Latadas, mas eu não sou testemunha fidedigna, já que a minha atenção estava então virada para o yé-yé. Porém, numa conversa que tive em tempos com o saudoso Augusto Camacho Vieira (cantou em Coimbra entre 1945 e 1953) ele referiu-me as serenatas das Latadas, sem que tenhamos aprofundado o tema. E também José Niza (Fado de Coimbra, Vol I, 1999) se referiu à existência de serenatas celebrando as Latadas nas escadarias da Sé Velha. O facto é que, ao procurar o rasto destas pistas, apenas encontrei mais uma notícia sobre tais eventos num texto de António José Soares (Saudades de Coimbra, 1934-1949, 1985):

«Outubro 1947: Deitaram fitas, em conjunto, os quintanistas de Direito e de Ciências. Dias depois o curso do IV ano de Direito festejou a imposição de insígnias com um almoço de confraternização, uma serenata na Sé Velha e um grande cortejo para que foram mobilizados todos os caloiros, muitos dos quais tocavam estranhos instrumentos».

Curiosamente, quer pela data em que ocorreram quer pelas suas características, tudo indica que estes acontecimentos tenham sido o embrião das Latadas que acima tenho vindo a abordar. Mas será que as serenatas em dia de Latada se ficaram por 1947 ou terão continuado depois disso?

Ao rever este post em Out/Nov 2022, procurei aclarar esta questão junto dos frequentadores do grupo do Facebook “Penedo d@ Saudade - TERTÚLIA”, bem como de alguns amigos a quem enviei e-mails. Dos não directamente envolvidos no fado de Coimbra, ninguém se recordava de serenata alguma por ocasião das Latadas. Quanto aos restantes, o viola Levy Baptista (anos 50) disse-me peremptoriamente que, no seu tempo, as Latadas nunca tiveram nada a ver com serenatas na Sé Velha; e o viola Rui Pato e o guitarrista Manuel Borralho (ambos dos anos 60) disseram não guardar tais serenatas na memória. Mas Arménio Santos, cantor dos anos 60, confirmou-me que cantou na serenata da Latada de Letras de 1967 na Sé Velha, quando a sua namorada – hoje sua mulher – pôs grelo, sendo que ela própria também se recorda, só não sabendo dizer se foi na noite da véspera se na noite seguinte à Latada. Terá esta serenata sido um caso isolado? Não o creio. Mas, em face dos restantes depoimentos, admito que tais serenatas também não fossem a regra.


II.b) A Festa das Latas e Imposição de Insígnias

E hoje em dia como é? Acabadas as Latadas, aí temos a Festa das Latas, com algumas diferenças importantes, embora não diferindo no essencial, ou seja: uma festa que acontece no início do ano lectivo e que está associada à imposição de insígnias dos novos grelados e fitados. Aliás, a denominação oficial da festa deste ano é "Festa das Latas e Imposição de Insígnias 2011". No entanto, ela serve também para mostrar os caloiros à cidade e promover o seu baptismo.

Mas o que há, então, de diferente?

Desde logo, um cortejo único. Se assim não fora, com o actual número de Faculdades (8) mais os Politécnicos e outras escolas de ensino superior (mais 8), teríamos Latadas até ao Natal. Mas se o cortejo é único, o grosso da festa prolonga-se por quase uma semana, fora os preliminares, uma série de "inventos" que a malta organiza, desde concursos literários e fotográficos a torneios desportivos e peddy-papers, passando por uma caça ao tesouro em Conímbriga e por umas olimpíadas do conhecimento sobre Coimbra e a vida académica. São eventos que têm para o caloiro que chega uma função integradora que me parece ser muito mais eficaz do que as mais que estafadas praxadelas do tipo brincadeiras bobas no meio da rua.

A abertura oficial das festas é marcada por uma serenata que tem lugar às zero horas do primeiro dia, sem local fixo, mas que se pretende que não seja na Sé Velha. Já foi no Largo da Sé Nova, à Porta Férrea e na Praça Velha. Gosto da ideia de abrir as festas com uma serenata, acarinhando e perpetuando os fados e guitarradas de Coimbra. Mas agradar-me-ia mais que a serenata fosse sempre na Alta, já que é lá o seu espaço natural, por ser na Alta que reside a fonte de todas as tradições académicas. Mas se até o Hilário cantava no Choupal, conforme reza o fado que tem o seu nome, quem sou eu para condenar uma serenata na Baixa?

Como sucedâneo de luxo dos filmes no Teatro Avenida temos as noites no Queimódromo / Praça da Canção, com um cartaz de show business à escala dos nossos dias, do poder de compra dos estudantes de hoje e dos interesses comerciais que se movem em torno das festas académicas, onde cada vez a cerveja mais escorre e o INEM mais acorre.

Mas é no cortejo do último dia – cerne praxístico das festas – que eu encontro mais novidades: desde logo, qualquer estudante universitário pode desfilar, ainda que apenas os grelados levem consigo as insígnias; e os caloiros no cortejo são agora de ambos os sexos, já que as caloiras podem ser mobilizadas pelas doutoras. Aliás, penso que a entrada da mulher em peso na Universidade terá sido a mola impulsionadora da mudança. Embora mantendo ainda um cunho reivindicativo e crítico, o cortejo ganhou uma alegria que não tinha no meu tempo, mais se assemelhando a um desfile carnavalesco, onde cada curso canta os seus hinos e faz as suas coreografias, com os caloiros e caloiras vestidos com fantasias de cores garridas.

Para além disso, existem dois conceitos completamente novos, cuja origem desconheço: o baptismo de caloiro e o morder do nabo. Quanto a este último, os caloiros, durante o cortejo, têm de ir mordendo os nabos dos grelados, cuja rama é mais tarde atirada ao Mondego. Quanto ao baptismo, cada caloiro/caloira escolhe, entre os doutores, um padrinho/madrinha [5] de baptismo. Chegados ao largo da Portagem, a turba dirige-se para essa enorme pia baptismal que dá pelo nome de Mondego e, fazendo-se uso dos penicos que cada caloiro transportou consigo durante o cortejo (conjuntamente com uma chupeta descomunal), vai de mandar pela cabeça da caloirada abaixo – «in nomine solenissimae praxis caloiro(a) baptizado(a) est»! – um chapadão de água do rio que, embora não me constando que seja benta, tem a propriedade de curar na hora uma boa parte das borracheiras em que o cortejo é fértil. Tudo previsto!

Deixei para o fim a visita ao Mercado D. Pedro V, onde se introduziu, há já mais de uma década, a triste ideia de que a tradição impunha que o nabo fosse roubado e não comprado. Em 1/11/2000 li no Diário de Coimbra uma exortação do Conselho de Veteranos, lembrando que o nabo é para ser comprado e não roubado. Mas, sete dias mais tarde, o mesmo jornal anunciava, como fazendo parte do programa oficial da Latada, o "Roubo do nabo"… Distracção? Gato escondido com o nabo de fora?

Estive em Coimbra há poucos dias e falei com várias vendedeiras do Mercado que me disseram que «já se rouba menos… mas ainda se rouba»! É indigno de um estudante, que assim se diverte no que é o trabalho dos outros. Faço votos para que este estúpido costume caia rapidamente em desuso. Seria uma pena que, por brincadeiras inconscientes, fosse posta em causa uma aliança tão bonita e tão antiga. É que os estudantes de Coimbra aprenderam a ir ao Mercado abraçar as vendedeiras muito antes dos políticos. E não o fizeram para caçar votos, mas sim por solidariedade.

Zé Veloso

[1] Conta Gonçalo dos Reis Torgal (Coimbra Boémia da Saudade, Vol. II, 2003) que a data era escolhida de acordo com a hierarquia das Faculdades: Medicina, Direito, Ciências e Letras, acabando por, quase sempre, as Faculdades prioritárias escolherem as datas mais tardias.

[2] Foto pertencente ao acervo do autor. A caminho do mercado D. Pedro V na manhã da Latada de Ciências de 1965. Da esquerda para a direita, António Dias Figueiredo, Luís Filipe Colaço, Maria Cláudia Carneiro (hoje M. C. C. Veloso) e Zé Veloso.

[3] As ditas versões correspondem a pequenas variantes dos três primeiros versos. Porém, o Nuno Tavares (anos 60) contou-me que, no seu tempo e nos Direitos, os dois últimos versos se cantavam «Que o grelo no nabo / E o nabo no grelo», fórmula algo dúbia, que tanto poderia referir-se à junção entre o nabo e o grelo (fita estreita) dentro da pasta como tratar-se de uma insinuação brejeira.

[4] Foto pertencente ao acervo de Luís Filipe Colaço. Latada de Letras de 1961 atravessando a Praça da República. L. F. Colaço é o caloiro de branco, boina preta e cachimbo.

[5] A escolha de um padrinho poderá ter sido inspirada nas descrições do Palito Métrico, que nos transmitem que era frequente os caloiros colocarem-se sob a protecção de um veterano “lá da terra” ou que lhes tivesse sido recomendado.

EM TEMPO

Este post foi inicialmente escrito em 3/11/2011.
Em Out e Nov 2022, a parte II.a) As Latadas do final dos anos 40 até à década de 60 foi sendo sucessivamente revista, no sentido de corrigir algumas falhas e acrescentar informação em falta.
Não foi feita qualquer revisão ou actualização da parte II.b) A Festa das Latas e Imposição de Insígnias, a qual diz respeito a festividades que continuam a evoluir. Mas aproveito para registar que a serenata da Festa das Latas se fixou definitivamente no Largo da Feira dos Estudantes (Sé Nova).

Zé Veloso
14/11/2022


7 comentários:

  1. Ricardo Figueiredo04 novembro, 2011 15:01

    Zé Veloso, caro amigo
    Os teus seguidores neste tema, podem ter uma visão,ainda que titulada, pois se trata de um jornal partidário, –revolta do grelo/férias da couve-, no jornal “A Resistência”,19-03-1903
    https://bdigital.sib.uc.pt/republica1/UCSIB-GHC-154/UCSIB-GHC-154-1903-t1/UCSIB-GHC-154-1903-t1_item1/P81.html
    Saberão onde , local, caíram os mortos e o desenrolar das operações.Como foi vista a posição da Academia, por este jornal?Têm uns tantos exemplares que relatam os acontecimentos.
    Abraçol

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  2. A contrapor aos relatos, muito a quente, de “A Resistência” sobre a denominada «Greve do Grêlo» - Vide comentário do Ricardo Figueiredo - junto o link para um ensaio de análise política de Vasco Pulido Valente, baseado em várias fontes da época, cobrindo um largo leque de quadrantes políticos: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224071208M5pHE5kz0Vb64QA0.pdf. Vale a pena ler.
    Uma outra fonte ("Saudades de Coimbra" de António José Soares) refere que, em Abril de 1903, “A comissão de operários formada para auxiliar as vítimas da Revolta do Grelo recebeu mais de 300 mil réis que foram conseguidos pelos estudantes, nos bandos precatórios que organizaram na cidade."
    Zé Veloso

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  3. Ricardo Figueiredo09 novembro, 2011 22:19

    Meu caro amigo
    In "À Porta Férrea-Serrão de Faria-Junho/1946-pag 43, o autor está confuso, pois refere uma greve hortaliceira em 1902 ou 1903" Em 1902, o autor era aluno(3º curso) como indica a listagem que anexou.Não muda nada à provável ligação à "reminiscência de um molho de bróculos".
    Acrescento que o livro é de muito interessante, mas dificil, leitura-com dicionário ao lado-pelos termos usados.Descreve tipos(estudantes,tricanaS,tascas, casas de prego, etc.)durante os anos 1900-1903.
    Abraço

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  4. Excelente. Muito obrigado por este texto.
    O costume das latadas foi copiado no Porto nos anos 80, mas numa versão muito mais pobre (e julgo que sem consciência de que não existia tal costume no Porto antes da interrupção das tradições académicas nos anos 70).
    Já agora, uma pergunta: essa imposição de insígnias inclui (ou incluía) algum ritual de imposição ou trata(va)-se só de começar a usá-las nesse cortejo?

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  5. Obrigado, João Caramalho Domingues.

    No meu tempo não existia qualquer ritual. Apenas tinha de ser depois das 10 horas da manhã, no dia da latada. E cada um o fazia como queria. Ou saía de casa já com o grelo ou as fitas de fora, se depois das 10 horas; ou saía com as insígnias já colocadas na pasta mas metidas para dentro e, pelas 10 horas, soltava-as para fora.

    O art.º 258 do Código das Praxe de 1957 diz que «as insígnias que irão usar-se no decurso do ano lectivo são postas no dia da latada ou cortejo respectivo às 10 horas da manhã». No entanto, o Código só era conhecido dos praxistas ferrenhos em cujo grupo eu não me inseria. Só vim a conhecê-lo muito depois de sair de Coimbra, quando comecei a interessar-me pelo estudo destas matérias. O direito da praxe era sobretudo consuetudinário, passava de boca em boca e de geração em geração sem necessitar de papéis escritos.

    Vou colocar hoje no post uma fotografia onde estou com mais 3 colegas grelados, no dia da latada, a descer a Av. Sá da Bandeira a caminho do Mercado D. Pedro V para comprar o nabo. Deverá ter sido tirada entre as 10 e as 11 da manhã.

    Um abraço, Zé Veloso

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  6. Ricardo Figueiredo28 novembro, 2012 23:01

    Boa noite
    Reler a vasta literatura coimbrã tem a vantagem de, frequentes vezes, nos fazer notar pontos que, na voragem da leitura, passaram despercebidos. Foi o que aconteceu, com – Estudantes de Coimbra-B-M. Costa e Silva, 1903, em nota de fundo de página 62 “ As cores distinctivas das differentes faculdades são: teologia, branca; direito, encarnado; medicina, amarella; mathematica, azul e branca e filosofia, azul; Além d’estas houve a verde, de direito canónico. Nos cursos de farmácia, amarela e azul; no liceu, verde.”
    Repito:”Nos cursos de farmácia, amarela e azul”. Não sabia e não recordo ter encontrado tal referência noutro local, mas poderá existir.
    No sitio https:// woc.uc.pt/ffuc, anota-se que :” O ensino farmacêutico existe na Universidade de Coimbra desde finais do século XVI. Nessa época foi instituído um regime de formação de boticários que era essencialmente prático. Este regime manteve-se em vigor até à reforma pombalina da Universidade (1772). Neste ano foram fundados… . e um Dispensário Farmacêutico.
    Este regime manteve-se até 1836 ano da fundação da Escola de Farmácia anexa à Faculdade de Medicina. Entre 1902 e 1932 surgiram diversas reformas do ensino farmacêutico e da própria instituição. Desde a autonomia relativamente à medi cina, em 1911 reforçada em 1918, até à fundação da Faculdade em 1921”.
    Abraço

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    1. Caro Ricardo,
      Outra coisa me espanta: «no liceu, verde». Nunca em tal tinha ouvido falar. É assunto a investigar com mais cuidado.
      Um abraço,
      Zé Veloso

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