No passado dia 1 de Março, Miguel de Sousa Tavares iniciava o seu programa “Sinais de Fogo” com uma notícia bombástica: “Nos últimos 10 anos, por cada 100 licenciados que saíram das universidades portuguesas, 65 eram mulheres, só 35 eram homens”. E adiantava que, nesse mesmo período, a percentagem de alunas inscritas no ensino superior era, em média, de 53,8% contra 46,2% de alunos do sexo masculino.
Quem hoje assiste a um cortejo da Queima e vê a mancha ondulante de cabeleiras femininas esvoaçando por sobre as capas negras, talvez não saiba que a primeira formatura de uma mulher na Universidade de Coimbra aconteceu apenas em 1894 e que, nesse ano, ela era a única aluna a frequentar a universidade. E talvez não se dê conta da aceleração brutal que o acesso da mulher portuguesa à instrução sofreu ao longo do século passado.
Mas antes de irmos mais fundo no retratar desta aceleração, olhemos melhor os números apresentados pelo MST. Comparando a percentagem dos alunos e alunas que terminam os seus cursos com a percentagem dos que os frequentam, conclui-se que, pelo menos na idade escolar, elas são muito mais eficazes do que eles no que toca a atingir objectivos. Os homens que se cuidem!
Poderia pensar-se que a aceleração do acesso da mulher portuguesa ao ensino superior tivesse tido o seu ponto alto no pós 1974, mas não é assim. Tomando por referência a Universidade de Coimbra, que constitui uma amostra credível do ensino superior em Portugal, a grande aceleração dá-se entre os anos 20 e os anos 70, sendo a década de 60 a mais responsável. No início desta década havia naquela universidade 36% de alunas, enquanto em 1972 a percentagem já ultrapassava os 49%! Em números redondos, passou-se, em doze anos, de pouco mais de uma para dois para pouco menos de uma para um! Benditos anos 60, que tanta transformação trouxeram à sociedade!
É esta embalagem dos anos 60 e, provavelmente, o clima de descompressão que se segue ao 25 de Abril, que permitem ter em 1976 uma mulher como Presidente da AAC, a maior associação académica do país.
E antes de 60 como foi?
Bem, nos seis primeiros séculos da universidade portuguesa – sendo que em quatro deles a universidade portuguesa e a Universidade de Coimbra eram uma e a mesma coisa – só quatro mulheres a terão frequentado e nenhuma delas terminou o curso. Eram aves raras, que apesar da protecção do reitor – e até por sugestão deste – chegavam a disfarçar-se de homem para não serem importunadas. Sabe-se que uma ficou solteira, duas foram para freiras e da quarta não ficou rasto. Fracos louros para quem se atreveu a desafiar o terreno dos homens…
E antes de 60 como foi?
Bem, nos seis primeiros séculos da universidade portuguesa – sendo que em quatro deles a universidade portuguesa e a Universidade de Coimbra eram uma e a mesma coisa – só quatro mulheres a terão frequentado e nenhuma delas terminou o curso. Eram aves raras, que apesar da protecção do reitor – e até por sugestão deste – chegavam a disfarçar-se de homem para não serem importunadas. Sabe-se que uma ficou solteira, duas foram para freiras e da quarta não ficou rasto. Fracos louros para quem se atreveu a desafiar o terreno dos homens…
Em 1894 formou-se, finalmente, a primeira mulher: Domitilla Hormizinda Miranda de Carvalho! Formou-se em Matemática. Um ano depois formou-se em Filosofia (Ciências, se diria hoje) e, em 1904, em Medicina.
Por esta altura já não estava sozinha na universidade, pois que no rondar do Séc. XIX para o Séc. XX existiam já cinco alunas.
Em 1914 forma-se em Direito Regina Quintanilha, que viria a ser a primeira advogada da Península. Tal como Domitília, também ela se forma com altas classificações.
Em 1920 é fundada a primeira residência universitária feminina. Em 1926 há já uma mulher para cada 17 homens. A partir daí é sempre a acelerar.
Volto à nossa primeira mulher formada, Domitilla Hormizinda, para referir que cheguei a pensar que, com um nome destes, só soubesse estudar... Mentira! Para além de médica, foi poetisa e escritora, professora de matemática, reitora do primeiro liceu feminino de Lisboa e deputada à Assembleia Nacional. Afinal, uma grande mulher!
Segundo Afonso Lopes Vieira, “uma mulher gloriosa que uma Faculdade de Medicina, violentando os preconceitos terríveis de uma escola e de um país, pretendeu unanimemente contar entre os seus membros”. Curioso é que, passado um século sobre esta afirmação, os cursos superiores na área da saúde sejam frequentados em 75% por mulheres!...
No passado dia 8 comemorou-se, pela centésima vez, o Ano Internacional da Mulher. Que se passará nos próximos 100 anos? Quando haverá um Dia Internacional do Homem? No “Sinais de Fogo”, dizia-se também que na Suécia já há quotas a favor dos homens na entrada para a universidade. Aguardemos pela evolução das coisas em Portugal. Pelo andar da carruagem, ainda cá estarei para ver…
Zé Veloso
Amigo Veloso :
ResponderEliminarJá conheces a " pordata " ?
À terceira , lá me levas a fazer comentários!
1- Então a gente gasta o fósforo todo com o
comentário , para te animar ,e tu , se não
te agrada , fazes uma coisa feia em cima dele?
Não acho justo !
2- Graças ao teu trabalho de pesqisa , começo
a perceber como viemos parar a esta desgraça!
Agora a sério , estou a gostar !
Antero
P.S.- A Teresa não viu nada .
Meu caro Veloso
ResponderEliminarSempre atento e muito agradado.com o teu blogue
Bem esrito, curto, informativo, com deixas para quem se interessar em pesquisar.Sabes que a D. Dionisia Camões, a fera-reitora do liceu feminino, nos Arco da Traição, foi uma das fundadoras da tal primeira casa-república femenina, numa rua que sai da Couraça deLisboa, à direita de quem desce, quase ao actual Governo Civil-Casa do Prof. Angelo da Fonseca
c
Este assunto Mulher/Universidade fez-me recordar uma curiosa questão de toponímia, com que deparei, há anos, aqui no Porto:
ResponderEliminarO Liceu de Carolina de Michaëlis é parcialmente circundado pela Rua da Infanta D. Maria que entronca num dos topos com a Rua de Paula Vicente o no outro tem a Praceta de Públia Hortênsia.
Quem foram estas Mulheres?
A primeira é a mais conhecida: Nascida alemã e, posteriormente, portuguesa pelo casamento e pelo sentimento.
Após o casamento veio viver para o Porto, na nossa bem conhecida Rua de Cedofeita.
Foi a primeira mulher a leccionar na Universidade de Coimbra, como professora convidada, onde acabou por ser distinguida com o título de "Doutora Honoris Causa", em 1916.
Antes disso, já havia recebido idêntico título pela U. de Friburgo, que posteriormente também lhe foi concedido pela U de Hamburgo.
Alemã, aos 16 anos já publicava trabalhos sobre literatura de outros países europeus e, poucos anos depois, um grande escritor francês(Gaston Paris)perguntava-lhe:"Onde aprendeu, aos 19 anos, aquilo que muitos de nós, depois de 12 ou 15 anos de trabalho, ainda não conseguimos saber?"
AS restantes são do século XVI:
A Infanta D. Maria de Portugal nasceu do terceiro casamento de D. Manuel I com uma filha do Imperador Carlos V.
Com os imensos legados e heranças de que beneficiou, era a Infanta mais rica da Europa.
A isso associava grandes dotes de inteligência e autonomia de tal forma que aos 16 anos, o irmão, D. João III, lhe organizou casa própria, separada do paço real, onde ela criou uma verdadeira universidade de senhoras ilustradas, em todos os géneros de ciência e letras, desse tempo. Passou a ser conhecida na Europa pela sua cultura.
Desse círculo fez parte Públia Hortênsia.
Foi uma das maiores referências do humanismo português.
Em Évora, apenas com 13 anos, na prestação de provas para atingir o grau de licenciatura, a sua argumentação causou assombro entre os seus inquiridores, entre os quais André de Resende.
Frequentou, na Universidade de Coimbra, Humanidades, Retórica e Metafísica. Para esse efeito teve de disfarçar-se de homem (será uma daquelas referidas, que recorreram a esse estratagema).
Quanto a Paula Vicente, foi filha de Gil Vicente (o dos Autos e da Custódia de Belém).
Senhora de elevada craveira intelectual e artística, também fez parte daquela areópago.
Compôs uma espécie de dicionários para inglês e holandês e escreveu algumas comédias.
Também representou, naquela corte, as peças de seu pai.
Concluindo:
- Pode ser que as mulheres estejam apena e agora a ocupar oa lugares para os quais sempre tiveram capacidades e que os "usos e costumes" lhes negavam.
Portanto, os broncos(essencialmente esses), que se cuidem.
- As Senhoras, anteriormente citadas, já eram uma referência, com 15 anos de idade. - A mesma daquel estúpida do telemóvel que, naquele Liceu Carolina de Michëlis (triste coincidência), agrediu a professora e soltou o grunhido."Dá-me o telemóvel,já!"
Em termos humanos, teremos progredido?
- Saliente-se a perspicácia e a sensibilidade da(s) pessoa(s) que, na hora de atribuirem nomes aos espaços, possibilitaram que, numa pequena zona da cidade, ficasse conjuntamente lembrado um grupo de Mulheres que, através da cultura, se impuseram na sociedeade do seu tempo.
Almocei hoje na Ordem dos Engenheiros com malta dos Ly-S.O.S.. O Álvaro Forjaz teve a amabilidade de me trazer dois livros bem interessantes sobre a academia de Coimbra, sendo que num deles – A Mulher na Universidade de Coimbra de Joaquim Ferreira Gomes – encontrei respostas para dúvidas que tinha sobre o intrigante nome da primeira mulher formada na UC: se Domitila ou Domitília; se Horminsinda ou Hormisinda. Pois bem, através da reprodução de uma “Guia de emolumentos a pagar para a obtenção da carta de curso”, no valor de vinte mil reis (10 cêntimos para os mais jovens), fiquei a saber que nem uma coisa nem outra: Domitilla Hormizinda é que vale. Como não gosto de servir gato por lebre, já rectifiquei o texto.
ResponderEliminarPara que conste, foi a mãe do Álvaro Forjaz, Maria Teresa Cabral da Silva Basto (Ciências), que, conjuntamente com Dionísia Camões (Letras) e mais duas colegas fundaram, em 1920, a primeira residência universitária feminina, nos Palácios Confusos, n.º 24.
Artigo muito interessante e bem escrito. Aqui fica o meu contributo.
ResponderEliminarGraças ao seu trabalho e persistência, as mulheres conseguiram provar o seu valor e conquistar o lugar na sociedade a que têm direito. É com grande alegria que vejo estas estatísticas mas todos sabemos que ainda há um longo caminho a trilhar, senão vejamos: o desemprego e a precariedade afectam mais as mulheres; existe uma enorme desigualdade em termos de remunerações; as mulheres são penalizadas devido à maternidade e amamentação. Contrariamente ao que se pensa, são muito frequentes as situações de discriminação e desigualdade na vida profissional, social e familiar das mulheres.
Caro Veloso:
ResponderEliminarComo cultivas a verdade e o rigor, aqui vai uma achega ao teu texto de 18/3:
Aqueles vinte mil reis não são vinte escudos e, daí, 10 cêntimos.
Vinte mil reis era muita "massa". É só fazer as contas , como diria o outro.
Querido Zé
ResponderEliminarCom o propósito de preencher esse vazio que te assalta o peito, de matar essa saudade de um futuro em que possas celebrar o Dia Internacional do Homem, aqui te envio, com muito carinho, a seguinte informação:
O Dia Internacional do Homem é um evento internacional celebrado em 19 de Novembro de cada ano. As comemorações foram iniciadas em 1999 pelo Dr. Jerome Teelucksingh em Trinidad e Tobago, apoiadas pela Organização das Nações Unidas e vários grupos de defesa dos direitos masculinos da América do Norte, Europa, África e Ásia.
Os objectivos principais do Dia Internacional do Homem são melhorar a saúde dos homens (especialmente dos mais jovens), melhorar a relação entre géneros, promover a igualdade entre géneros e destacar papéis positivos de homens. É uma ocasião em que homens se reúnem para combater o sexismo e, ao mesmo tempo, celebrar as suas conquistas e contribuições na comunidade, na família e no casamento, e na educação dos filhos. (Origem: Wikipédia)
Um Xi-Coração da
Fernanda
Este comentário de Fernanda deixa-me perplexo.
ResponderEliminarSerá que "elas" já saltaram o muro e calcaram o risco, ao ponto de se sentir necessidade de criar mais um famigerado "Dia de..." e já haver "grupos de defesa dos direitos masculinos?!
O que é que a sociedade consumista irá inventar , para nos impingir nesse dia?
Uma coleira?
Aqui deixo, para reflexão,uim velho ditado popular: "Quem o seu inimigo poupa, às mãos lhe morre".
Já que estamos no Penedod@Saudade e aqui se evoca Domitilla de Carvalho, registemos um soneto seu, sobre aquele lugar:
ResponderEliminarNo Penedo da Saudade
Extrema-Unção da luz, a sombra errante
De saudade que geme e que estremece
Toda me envolve - a casta perturbante -
Pelo cair da hora que entardece.
Diz em surdina o ritmo cantante,
A cadência subtil da estranha prece
Com que as tristezas todas adormece
E me adormenta a casta perturbante.
Passa no ar a vaga nostalgia
Dum incêndio de Sol que anoitecia
Em labaredas rubras sobre o Mar
No torvo entardecer de névoa e bruma
Tudo é sombra e saudade que se esfuma
Num poente cinza e oiro a desmaiar.
In "Terra de Amores" - 1924
Gostei muito do seu post e resolvi enviar um comentário, pois curiosamente, duas das cinco mulheres a que se refere e que concluiram licenciaturas na Universidade de Coimbra, eram minhas tias avós. Uma delas, Sofia Simões Dias, licenciou-se em Medicina e, salvo erro, foi colega de Domitília de Carvalho e a outra, Laura Simões Dias, formou-se em Farmácia. Esta última morreu com 103 ou 104 anos e pouco tempo antes de falecer, ainda se lembrava de cor da composição de muitos dos medicamentos que manipulava. A minha tia Sofia foi médica no Liceu Infanta D. Maria , em Coimbra.
ResponderEliminarAna Braga
Peço desculpa pela intromissão.
EliminarFaço há anos um livro de genealogia no qual consta a referida sua tia Sofia Júlia Dias.
Se lhe interessar alguma troca de informação disponha pf.
Jorge A. Rodrigues
rodrigues.amado@gmail.com
PS Peço também desculpa ao autor do blogue.
Vou passar a sua informação a Ana Braga.
EliminarAni Braga (Facebook)
Cara Ana Braga,
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário. No livro de Joaquim Ferreira Gomes A MULHER NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA é referido que a sua tia Sofia Júlia Dias entrou na Universidade em 1896-97 e foi contemporânea da Domitília. Quanto à sua tia Laura, matriculou-se no 1.º ano de Farmácia em 1898-99. Curiosamente, em 1998-99 (neste ano a Domitília não se matriculou), as suas duas tias eram as únicas alunas da Universidade.
Se me der o seu e-mail, poderei enviar-lhe cópia das páginas do livro onde estes factos são referidos.
Zé Veloso
Caro Zé Veloso, Isto não é bem um comentário, mas não tive outra forma de comunicar.
ResponderEliminarSó hoje li a sua resposta ao meu comentário acerca das minhas tias Sofia e Laura, que nos finais do século XIX entraram na Universidade de Coimbra.
Venho agradecer a sua disponibilidade para me enviar o texto onde as suas os seus nomes são referidos.
No entanto, gostaria de adquirir a obra a que se refere, caso seja possível. Saber-me-á dizer onde poderei comprá-la?
Tenho lido com imenso agrado as suas crónicas sobre Coimbra e agora, nesta fase da vida em que nos tornamos um pouco saudosistas, dou por mim a achar mais piada à minha terra natal, do que quando aqui vivia.
Nessa altura sentia-me abafada e com uma enorme vontade de sair daqui. Mas isso são outras histórias – desejo de evasão próprio da adolescência e necessidade de viver com mais autonomia, longe da casa paterna e deste meio onde conhecíamos gente demais.
Na altura o meu pai era bastante conhecido, também. Talvez o Zé Veloso saiba quem ele é. Chama-se Mário Braga, era escritor, editor da revista Vértice e um homem bastante activo, quer no campo literário como, tanto quanto era possível, nas andanças da oposição ao regime.
Achei graça ao ler a sua biografia e ao verificar que fez parte dos Álamos. Aliás, pareceu-me reconhecer o Phil Colaço na fotografia que pôs a ilustrar o texto sobre as capas e batinas.
Lembro-me muito bem do seu conjunto, embora fosse uma garota nessa altura, mais nova do que vocês, mas durante um certo período demo-nos com a família Colaço. Os meus avós paternos e os meus pais davam-se muito com os pais da Marina, do Fred, do Phil e do Joca. Este último, mais próximo da minha idade, costumava ir às nossas festas de anos, e dava-nos a conhecer a boa música que ía sendo editada.
Foi ele que nos deu um single dos Searchers e ouvíamos e dançávamos muito ao som destes e dos Shadows. Teria eu os meus doze anos.
Como estive a ler algumas das suas crónicas à minha mãe (agora com 91 anos) lembrámo-nos com saudades desse tempo. Sabe-me dar notícias dos manos Colaço?
Fico a aguardar a sua resposta e, mais uma vez, lhe agradeço a sua simpatia em me facultar essas informações. O meu mail é: abraga@oninet.pt
Com os melhores cumprimentos
Ana Braga
P.S. Tentei mandar-lhe esta mensagem por mail, mas não consegui vou tentar desta forma.
Minha Senhora,
EliminarBoa tarde. Tenho uma fotografia em que figura uma das duas Senhoras em causa. Já tinha visto a referência às duas irmãs (que viviam na Av. Sá da Bandeira) no livro em causa, assim como num artigo publicado a propósito de um "congresso" sobre a Alta de Coimbra. Gostaria de lhe enviar a fotografia para que identificasse de quem se trata. Aproveito para cumprimentar o dono do blog, agradecendo a tolerância a este abuso.
Cpts
RAS
Muito obrigado pelo seu comentário.
EliminarPode enviar-me a fotografia para jveloso700@gmail.com.
Cpts
Zé Veloso
Meu caro Zé Veloso
ResponderEliminarQuando tenho oportunidade, folheio o ”Conimbricense”, independentemente do ano, pois sempre ali se encontram curiosidades, sobre Coimbra e a sua região, a Universidade e os seus estudantes, as suas efemérides, etc.
Desta vez, achei interessante, para juntar ao teu trabalho, o seguinte:
Conimbricense de 06-08-1898, nº. 5293
Caso raro nos annaes da Universidade
Segundo consta, habilita-se para o próximo futuro anno lectivo tomar capello em Mathemática, a ex.ma srª. Domitilia Harmizinda Miranda de Carvalho, que há pouco concluiu brilhantemente a sua formatura na mesma faculdade, obtendo a classificação de M.B.16.
A srª. Domitilia já se havia formado na faculdade de Philosofia , há dois anos, alcançando idêntica classificação à de Mathemática.
Deverá ser interessante esta cerimónia que a Universidade confere pela primeira vez a uma dama.
Esta senhora foi subsidiada nos estudos superiores por S.M. a rainha srª. D. Amélia que por certo será sua madrinha na festa do capppelo.
Muito folgamos com a resolução da gentil dama que assim quer ver galardoado o seu bello talento.”
Não aconteceu o cappelo, seguiu em Medicina.
Obrigado, Ricardo.
EliminarMas será que Domitília não chegou mesmo a tomar capello em Matemática?
A minha dúvida resulta do facto de Domitília ter terminado a licenciatura em Matemática no ano de 1897/98, só tendo iniciado o curso de Medicina em 1899/1900.
Que fez ela em 1998/99?
Um abraço e vai mandando sempre o que encontrares.
Zé Veloso
Meu caro
ResponderEliminarQuerias escrever 1898/99...
No meu escrito,faltou-me (?), a seguir a cappelo.Também partilho, mas se tomou cappelo, foi catedrática?
Abraço
Certo, Ricardo!
EliminarOnde escrevi 1998/99 queria escrever 1898/99.
Entretanto confirmei que Domitília não foi catedrática em Matemática. Tal cátedra não aparece no seu resumo biográfico. Poderá não ter passado de uma intenção, entretanto abandonada com o início da licenciatura em Medicina.
Zé Veloso
Para ilustrar o que se refere à licenciada Domitilia, na Faculdade de Matemática
ResponderEliminarAno lectivo de 1894-1895-Total de alunos-118-
2 licenciaturas -0 Douturamentos
Ano lectivo de 1895-1896-Total de alunos -156-
0 licenciatura-0 Douturamentos
Ano lectivo de 1896-1897-Total de alunos -124-
0 licenciatura-2 Douturamentos
Ano lectivo de 1897-1898-Total de alunos -176-
1 licenciatura-1 Douturamento
Ano lectivo de 1898-1899-Total de alunos -200-
0 licenciatura-0 Douturamentos
Ano lectivo de 1899-1900-Total de alunos-177-
0 licenciatura-0 Douturamentos
Ano lectivo de 1900-1901-Total de alunos-166-0 licenciatura-0 Douturamentos
In-Universidade de Coimbra-Marcos da sua História-Manuel Augusto Rodrigues-1991
Boa noite, Zé Veloso
ResponderEliminarEncontrei este apontamento que, se assim considerares, poderá ser junto ao já exposto :
“A Academia recebeu em Fevereiro de 1902 visita da Tuna dos Estudantes da Universidade de Valladolid.
Para comemorar a visita publicou-se……., e dois números dum jornal de estudantes intitulado Porta Férrea, o segundo desse nome, dirigido por Mário Monteiro, e no qual colaborou D.Domitilia Miranda de Carvalho, a primeira senhora a formar-se na Universidade de Coimbra”
In –A Universidade de Coimbra e os seus Reitores – Manuel Augusto Rodrigues -1990-pag.275
Nessa altura,quem estudava?Que se saiba,só quem tinha dinheiro...
ResponderEliminarSem dúvida, em tempos idos, quem não tivesse dinheiro não estudava (e esperemos que a sociedade não venha a regredir a este respeito).
EliminarMas a mulher era duplamente discriminada, já que poderia ter dinheiro e não estudar por ser mulher. E se houvesse dois irmãos, um rapaz e uma rapariga, e o dinheiro só desse para mandar estudar um, quem ia estudar era o rapaz e nunca a rapariga.
Obrigado pelo comentário,
Zé Veloso
Por ter achado tão interessante o tema partilhei -o no facebook sem sequer pedir licença ...
ResponderEliminarMas , partindo do princípio que o que se publica em blogs sobre assuntos interessantes é para ser divulgado , pensei que não haveria problema em transpôr para o facebook.
Já agora acrescento também o texto que escrevi a propósito
" Por causa de incluir mulheres nos quadros com paisagens de Coimbra antiga , desde o início do século passado , lembrei -me de pesquisar sobre quando as mulheres começaram a frequentar a Universidade de Coimbra e encontrei este interessantíssimo artigo no blog de um antigo estudante de Coimbra , o Dr. José Esteves , que também fez uma interessante carreira acompanhando de perto a vida das Repúblicas de Coimbra no séc. XX .
Parece que a primeira mulher a frequentar a universidade foi a primeira advogada da península ibérica em 1914 ... depois as primeiras mulheres frequentar a universidade e a distinguirem se , sobretudo no curso de medicina , foi a partir de 1920 ... ao ponto de as mulheres na actualidade terem chegado a alcançar percentagens de serem 75 % (em relação aos homens ) a frequentar o curso de medicina ! ...
(Talvez também um blog que vale a pena seguir ...) "
A cidade de Coimbra só se pode comparar a um grande amor ... Também é uma cidade única no mundo !
Caro Carlos Seabra,
EliminarAgradeço o seu comentário, que publiquei assim que me apercebi de que tinha dado entrada no blogue. Devo, porém, informá-lo de que, após melhor leitura, me vejo obrigado a corrigi-lo em matéria que não será da sua responsabilidade.
De facto, o texto onde refere que «a primeira mulher a frequentar a universidade foi a primeira advogada da península ibérica em 1914» está completamente errado!
Não disponho de tempo nos próximos dias para o elucidar cabalmente a tal respeito - já que preciso de recolher alguma informação - mas fá-lo-ei tão breve quanto possível.
Um abraço,
Zé Veloso
Caro Carlos Seabra,
EliminarPassou-me completamente a promessa de resposta e apenas há 3 dias, ao publicar o comentário de "Porta Férrea" mais abaixo, me apercebi disso. As minhas desculpas.
O competente Sousa Lamy, Na pág. 25 do seu A ACADEMIA DE COIMBRA (1537-1990), apresenta-nos uma série de outras mulheres que frequentaram a Universidade antes de Domitila de Carvalho (a primeira a formar-se, efectivamente: em Matemática, 1894; Filosofia, 1895; e Medicina, 1904) e, obviamente, muito antes de Regina Quintanilha, a primeira a formar-se em Direito em 1914.
São elas:
- Antónia da Trindade, que chegou a Coimbra em 1549;
- Púbia Hortência de Castro, falecida em 1585;
- Auta da Madre de Deus, que poderá ter cursado em Lisboa e não em Coimbra;
- e Catarina Fernandes, no séc. XVII.
Um abraço e mais uma vez as minhas desculpas pelo atraso.
Zé Veloso
Meu caro Zé Veloso:
ResponderEliminarAgora até o Dr. Miguel de Sousa Tavares me dá razão, quando critiquei o tal "Investigador" sobre a "praxe"! A Academia de Coimbra deixou de ser uma Academia "machista" para ser "Feminista"! Já não estou sozinho!