Dos vários comentários que recebi via e-mail sobre AS CHEIAS DO MONDEGO, retive um em que me era pedido para esclarecer melhor essa coisa de a Igreja da Santa Cruz se encontrar hoje ao nível da Praça 8 de Maio, enquanto num passado não muito distante se encontrava alguns degraus abaixo dela (7 ou 12 consoante as fontes consultadas).
Como é evidente, a igreja sempre esteve à cota topográfica que tem hoje. A Praça 8 de Maio – conhecida como Largo de Sansão até 1874 – é que não, tendo a sua cota variado ao longo dos tempos, consoante as conveniências urbanísticas.
Assim, em 1540 subiam-se 4 degraus para entrar na igreja. Mas o largo foi sendo alteado e, em 1796, já o largo e a igreja se encontravam ao mesmo nível. E como o Mondego continuasse a entrar impiedoso pela igreja adentro – a altura das cheias era medida já na antiguidade pelo nível que atingiam as suas águas junto ao altar-mor – quando, em 1858, a Rua Visconde da Luz foi traçada, alteou-se a metade do Largo de Sansão do lado da Igreja da Santa Cruz, de modo a fazer-se como que um dique que travasse as inundações (o que obrigou a fazer uma escadaria para descer atè à igreja).
Com as obras de regularização do alto Mondego (barragens da Raiva e da Aguieira), o Bazófias perdeu a bazófia, a baixa de Coimbra não mais foi invadida pelas suas águas e a Praça 8 de Maio pôde voltar a ser rebaixada, passando a ter uma fisionomia mais parecida com a que tinha o Largo de Sansão antes das obras de 1858. E é assim que quem entra hoje na Igreja de Santa Cruz volta a ter de subir, ainda que apenas 2 pequenos degraus.
As fotos referem-se às cheias de 1946, onde dá ideia que a água terá vindo da Alta, descendo a Sá da Bandeira. Mas ilustram bem a topografia da Praça 8 de Maio naquela época, topografia que se mantinha quando nos anos 50 e 60 eu calcorreava as ruas de Coimbra.
Recordo-me bem que, a separar a parte alta da parte baixa da praça, havia uma grade de ferro. Que junto a essa grade, do lado de cima parava o eléctrico 2, trazendo os passageiros que vinham da Estação Velha. E que do lado de baixo aguardavam os táxis, à espera de mais um servicinho... Se fosse hoje, diríamos que a Praça 8 de Maio era assim uma espécie de estação inter-modal! A estação inter-modal de Santa Cruz!
Zé Veloso
PS: Junto duas fotos da Praça 8 de Maio (Largo de Sanção) nos dias de hoje, mostrando o rebaixamento da praça para a sua cota original, bem como as rampas de acesso de um e de outro lado da praça.
Meu caro Veloso
ResponderEliminarCreio ter sido o primeiro, com minha mulher /Fernanda/Ricardo Figueiredo a entrar no teu blogue.Não importa se fui ou naão.....
Para mim,tens um bom nome para o blogue e nós temos um interessado autor/investigador,"coimbrinha". Não deixarei de te acompanhar, como amigo, contemporâneo na UC,como "salatina" de Coimbra
O artigo lembrou-me que, em 1946/47, tendo iniciado a minha vida de trabalhador, com os meus 10/11 anos, no escritório do Frederico A. Franco, agência automobilistica, ao lado da Direcção de Viação e Cervejaria Oliveira, chegueiao fundo da Couraça de Lisboa-vindo de Celas, a pé,já não pude avançar.A água chegava ao "mata frades e ao nivel do piso do coreto do parque.Não de viam os bancos do jardim (parque).O patrão, alugou um pequeno barquito e fui até ao escritório, no piso térreo, corredor-ele estava preocupado com a pasta de selos fiscais, de 20 e 50 escudos-Consegui entrar e vi-- a pasta, sobre um dos balcões. Tinha-me esquecido, na vespera, ao fechar a loja, de a arrumar, em armário fechado e, agora, ..inundado. Regressei com a pasta ilesa.
Conclusão: rapaz, merecias dois tabefes, por te teres esquecido de arrumar a pasta ...e, mereces o pequeno almoço, por teres assumido o risco de andar no barco..Vamos ao pequeno almoço...
Bons tempos, mesmo aos 10/11 anos, a ganhar 100 escudos, mais 15 tostões quando andava de electrico (sobravam 7 , pois vinha a correr/pendurado)
Grande abraço , continua e desculpa a intromissão com factos pessoais.
Já agora: o que será um "salatina"
Ricardo Figueiredo
Viva, Ricardo!
ResponderEliminarUm "salatina"? Nunca tal houvera visto! No Lello Universal, "Salatinos" é um nome depreciativo que o rapazio de Coimbra dá aos seus adversários. Conta lá o resto...
Pois, eu sou "salatina"
ResponderEliminarNascido na velha ALTA, burgo em redor da UC,área mais restrita, dentro dos limites das muralhas Castelo-Rua dos Anjos (onde morava o célebre Dr. Patacão)depois Rua de S.João (ao cimo, na esquina, esquerda de quem sobe-o PIRATA-e , depois, a rua do Forno , junto ao berço da REPUBLICA BACO.
Discute-se,ao que sei , a origem do nome "Salatina" Contrasta com futrica que se opunha a estudante, pois com eles convivia.Guerreavam os "chibatas", os que moravam na zona da Sé Velha.
Salatina virá de Saladino?
Bom dia, Veloso
ResponderEliminarSalatina, terá origem em SALÉ (Marrocos)?? Porto de corsários
mouros,independentistas,lutadores pela liberdade,golpistas, ladinos...
Questão para provocar os que mais saberão e poderão vir ao teu blogue, dar uma ajuda
Era habitual, nos idos de 40, a malta da escola da Boavista (Alta) fazer umas "corridas" às escolas da Sé Velha (Moura e Anexa) e, por vezes, arriscar mais, para invadir o território
dos outros e espantar as miúdas com tais feitos.
Não se fazia à escola feminina do Largo da Feira, pois estava no nosso território
Não era o Bulling actual
Abraço