“Capas
Negras”, uma fita de Armando Miranda, filmada em Coimbra (parte final no Porto)
em 1946, foi estreada na cidade do Mondego em 19/05/1947 sob forte pateada dos
estudantes. A contestação levou a que ministro da Educação Nacional proibisse a
exibição da fita uma semana depois. O filme, que apesar de mal-amado em
Coimbra viria a ser um êxito de bilheteira no país e no estrangeiro, seria passado
33 anos mais tarde no Teatro de Gil Vicente, por alturas da retoma das praxes
académicas (1980) e pela mão da própria Direcção da AAC, gesto que, na prática,
emprestou um aval de credibilidade a um retrato da academia de Coimbra de
1946/47 em que esta própria não se revira na altura.
A crónica
anterior – “CAPAS NEGRAS”. AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ! – recorda a cronologia dos acontecimentos. Na crónica de hoje procurarei
analisar o grau de adesão do filme à realidade académica coimbrã daquela época e
descortinar as razões do descontentamento e burburinho que se levantou.
E importa
desde já referir que a acção do filme está bem datada, quer pela celebração dos
40 anos do curso jurídico de 1906 quer pela exibição do cartaz da Queima de
1946. E, assim sendo, não é desculpável a utilização de clichés e realidades
que o argumento vai buscar, porventura, a velhos livros de memórias de
estudantes mas que, naquela altura, não correspondiam já à realidade.
Quando vemos hoje o filme, descontraidamente sentados no
sofá e com o distanciamento de quase 70 anos, não podemos deixar de sorrir com
o argumento e de exultar, até, como aquele final “hollywoodesco”, delirantemente
impossível. E a pergunta surge de imediato – Então onde é que está o mal? Mas, tal como o
diabo, o mal está nos detalhes...
Das minudências que não matam mas
amolentam…
Ainda
não tinham decorrido 5 minutos e já o argumento registava duas razoáveis calinadas,
ao chamar “vicente” ao toucado da tricana – confundindo o toucado propriamente
dito com a fitinha preta que o segurava – e ao dizer que a tricana Joaninha tinha
«vivido e amado desde Santa Clara Nova a
Santo António dos Olivais». Como escreveu o cronista do “Sempre Fixe”, talvez
fosse «para evitar confusões com Santa
Clara-a-Velha, que fica p’ró Alentejo» [A], pois que, em Coimbra, existia,
apenas,… Santa Clara.
A
crítica não deixou passar estes deslizes em claro. E a tricana que constitui a
segunda mais importante figura feminina do filme foi apelidada de «tricana do “ancien regime”, amavelmente
cedida pelo Rancho de Coimbra» [A] porque os trajes daquele cliché de
tricana há muito não eram utilizados, tresandando a folclore. E a mostrar
que não dá para inventar quando se faz um filme datado, ainda por cima relativo
ao ano anterior à sua estreia, veja-se a crítica que foi feita à reunião dos 40
anos do curso jurídico: «…(o antigo
estudante), quando volta, não vai confraternizar com os antigos colegas em
tabernas sórdidas» [B]. A 70 anos de distância, ninguém ligaria a este
pormenor e até acharia que era muito típico.
Tratando-se,
embora, de pequenos descuidos – como trocar o “Portugal dos Pequeninos” pelo
“Ninho dos Pequeninos” (existiam os dois mas em locais diferentes), dizer que os
professores universitários também envergam capa e batina (envergavam toga e uma
batina de modelo diferente) ou referir “vem
aí o acto grande», (prova que nos remete para o séc. XIX) – estas incongruências
revelaram um guião pouco cuidado, foram alvo de chacota e ajudaram a engrossar
o coro de protestos que os verdadeiros erros de palmatória e as «ofensas ao brio e hombridade do estudante
coimbrão» [B] haveriam de provocar.
Dos fados e canções…
Como
exemplo de tais erros de palmatória e desrespeito total pelas tradições
coimbrãs, a cena da serenata é de arrepiar e não me admiraria se tivesse sido ela o alvo da primeira grande pateada na noite da estreia. Sigamos a cena: dentro da
tasca da Ti Zefa, ouvem-se, vindos do exterior, os primeiros acordes do fado de
Coimbra “Feiticeira”; Maria de Lisboa (Amália
Rodrigues), a criada da tasca, abre a janela e apoia-se no parapeito, a escutar;
do arvoredo surge o estudante José Duarte (Alberto Ribeiro), vestido de capa e
batina e acompanhando-se a si mesmo à guitarra; terminado o fado, Maria de Lisboa
dá-lhe réplica, cantando uma canção de Lisboa que
José Duarte vai acompanhando, finda a qual, o estudante entende por bem dar-lhe
tréplica, cantando a canção “Coimbra” de Raul Ferrão e José Galhardo, canção que, anos mais tarde, correria mundo como "Avril au Portugal"!
Dando de
barato que nos anos 40 as serenatas tinham por alvo apenas as colegas ou as meninas
da sociedade coimbrã, sobra ainda um chorrilho de contradições. Desde logo o
facto de o cantor se acompanhar a si próprio, recuperando o cliché do Hilário
(séc. XIX), quando nos anos 40 a segregação entre cantores e instrumentistas
era sagrada, mesmo que o cantor soubesse também tocar guitarra ou viola.
Depois, a exposição da mulher à janela, contrária à tradição vigente, que
obrigava a uma dissimulação por detrás das cortinas, agradecendo apenas com o abrir
e fechar de luzes. Por maioria de razão, o despautério de pôr a contemplada a
dar réplica, tomando parte activa na serenata. E, finalmente, o facto nada
menor de se simular uma serenata de Coimbra onde apenas existe um fado de
Coimbra, num conjunto de três canções! Aliás, a este propósito, o filme é
sintomático: apresentando-se como uma fita de homenagem a Coimbra e à sua academia,
passa 13 canções em “voz on”, sendo que apenas 2 são de Coimbra! E ainda
queriam que a malta não pateasse…
Um
parêntesis para dizer que, se Amália Rodrigues tinha defensores e detractores,
o mesmo se não passava com Alberto Ribeiro, verdadeiramente detestado entre os
estudantes. O seu ar de “dandy” e a sua voz afectada não casavam com o “standard”
do estudante coimbrão. E foi tomado de ponta. Por isso ou por ter tido a
ousadia de cantar um fado de Coimbra, ou até pelas duas coisas. Mas dizia-se
que não o cantava bem, sendo «acusado de
não perceber nada do estilo de Coimbra» [C], «apesar de ensaiado directamente pela mão de Ângelo Vieira de Araújo»
[C].
Querendo
saber mais a respeito da voz de Alberto Ribeiro, pedi a opinião ao Dr. Augusto Camacho,
contemporâneo do filme e actual decano dos cantores de fado de Coimbra, o qual fez
questão de me dizer que não tinha concordado com a pateada. Na sua opinião,
Alberto Ribeiro cantava muito bem mas… «para
cantar é preciso haver expressão (sentimento,
alma, entrega), interpretação
(colocação de voz, volume, técnica de canto) e dicção». E, para ele, Alberto Ribeiro, sendo exímio na
interpretação, pecava na expressão. Utilizando um dito lisboeta, eu diria
que não é fadista quem quer mas sim quem nasceu fadista. E diria mais: em
termos de dicção, com a ressalva de a péssima sonorização do filme me poder ter induzido em erro, pareceu-me ouvir trocas de vv pelos bb (eu daria a bida inteira) na interpretação da
“Feiticeira”, o que, a confirmar-se, não teria deixado de ter irritado uma
cidade que se gabava de ser onde melhor se falava o português, ou seja, o
português sem sotaque algum.
Continuando
no tema das canções, também nas fogueiras de São João o guião não escapou à repescagem
de tradições do séc. XIX, entretanto caídas em desuso. Isto porque, em 1946, tricanas,
estudantes e futricas já não cantavam mais ao desafio. Mas, mesmo querendo
repescar uma tal tradição, bom seria que o tivessem feito com uma música popular
da terra e não com mais uma modinha a lembrar o Santo António de Lisboa.
Quanto
ao segundo fado de Coimbra – a balada “Vou partir”, interpretada por Domingos
Marques – não sofreu contestação aparente. Porém, a ideia de colocar os quintanistas
em cortejo pelas cercanias da cidade, a cantar a sua balada de despedida, é
pura fantasia. Digamos que, neste caso, os guionistas foram precursores de algo
que se tornou banal no meio académico pós 1980 – o inventar de tradições.
Do
viver numa República…
Várias
vozes se levantaram – inclusive no comunicado da Rás-Teparta, república onde
decorreu uma parte das filmagens – dizendo que aquilo não era uma verdadeira
república, quer no cenário montado quer na forma de viver. De facto, fica muito
a dever à realidade aquela sala que mais parece um albergue espanhol, onde quem
quer estudar tem de gramar com os outros em cima (como se o quarto não fosse o
local normal de estudo), onde, salvo o caloiro (!?), nunca se despe uma batina, seja para jogar à batota seja para estar ao cavaco (como se alguém andasse dentro de casa "com o seu único e melhor fato"), onde, no meio do barulho, um estudante alerta «Baixinho! Por causa da vizinhança…»
(esquecendo que as Repúblicas estavam sempre instaladas em casas sem vizinhos quer
por baixo quer por cima, e tal problema não se colocava)!
Quanto
ao “prego”, descontando as trapacices do Manecas (Artur Agostinho) de que mais
adiante falarei, ele era um recurso tradicional do estudante de Coimbra. Havia,
porém, um último recurso que, infelizmente, o guião não se lembrou de incluir –
o “andar á lebre”. Foi pena, já que “pregos” há em todo o lado, enquanto “andar
à lebre” só em Coimbra o conheci.
Das
tradições académicas e da praxe…
Na cena
da trupe, a imobilização do caloiro, de tesoura e varapau (?) em riste, bem à
mostra para a câmara, lembra-me aqueles postais ilustrados antigos. Mas nem a
tesoura se exibia nessa fase anterior ao rapanço propriamente dito nem o
varapau era usado em 1946. Seria uma moca invertida? Mas o que verdadeiramente pôs o filme a
ridículo, enquanto suposto retrato das praxes, foi o veterano que,
candidamente, «pede protecção para o
caloiro»! Em Coimbra, a protecção nunca se pediu! Quem tinha direito a
proteger, fosse veterano, quintanista, uma simples senhora ou uma irmã, dizia
apenas “Está protegido!”. Se é um direito, não se pede. Exerce-se!
Ao
contrário da cena da trupe, a do rasganço está bastante natural, a contrastar
com a artificialidade de uma boa parte das cenas! Só lhe aponto um senão: é
sabido que naquela época todos os formados eram de imediato rasgados, fosse
qual fosse a nota obtida; porém, a sequência da cena (onde são anunciadas as
notas de três alunos mas apenas José Duarte é rasgado) permite a conclusão apressada
de que o rasganço acontece como sinal de júbilo pela mais alta classificação
obtida (15 valores).
Em
termos de tradições a académicas, outra coisa que não caiu bem foi o estender
das capas para serem pisadas pelo juiz, já que era uma distinção raríssima, só
concedida a figuras de muito elevado prestígio. Admito que os tempos tenham
banalizado este procedimento que, quando visionei o filme, nada me espantou,
num contexto irreal de um juiz que julga não de acordo com a lei mas de acordo
com o seu sentimento coimbrão.
Finalmente,
a filmagem do cortejo da Queima de 46, do Largo da Feira ao Largo da
Portagem, é um documento cheio de interesse, que me lembra em muita coisa a
Queima do meu ano (1966). Destaco alguns pormenores: (i) um grupo – que penso dever
ser de quintanistas – que prescinde da cartola, “fraque” e bengala (fantasia criada
depois de 1932) e se apresenta de borla e capelo (!); (ii) o elevado número de
estudantes de capa e batina que se apresentam de laço (cheira a festa!) e sem
colete (cheira a Verão!); (iii) as estudantes fitadas que, nesta altura, iam
nos carros com seus vaporosos vestidos. E dá para ver uma parte do Largo da
Feira ainda intacta, o Arco da Traição ainda não demolido e a pala de entrada
do Teatro Avenida ainda de pé.
Questões
comportamentais e de imagem…
Mas, a avaliar
pelos escritos dos jornais, o que mais deixou a academia fula foi aparecerem,
como elementos centrais do filme, comportamentos reprováveis em que a
generalidade dos estudantes se não revia, afectando a imagem do académico de
Coimbra que, graças «à inconsistência
criminosa do argumento ( … ) aparece deturpado e amesquinhado» [D].
A gota
de água que encheu o copo terá sido a figura do estudante Manecas (Artur
Agostinho), o qual – à custa de espoliar as palonças (sic) da cidade, a quem,
uma a uma, ia prometendo casamento – era a fonte de sustento da República nos
dias de aperto. Tomando a parte pelo todo, o estudante de Coimbra sentia-se,
assim, apelidado de “chulo” com todas as letras.
E também
de “falhado”! Como escreveu Rui Vieira Miller [B], o filme resultou «(n)uma coisa mais falsa do que Judas que
apenas serve para espalhar por essas terras que o estudante de Coimbra passa a
vida entre mulheres e vinho, se sustenta com o produto de roubos e com o
dinheiro de amantes, para acabar por tirar um 15 na Faculdade de Direito e ter
depois o escritório às moscas»
E até o comportamento
do juiz foi criticado, por ser indigno de um juiz formado em Coimbra – «… um juiz que abandona a sua integridade de
julgador impoluto pela sentimentalidade dum faduncho com laivos de Coimbra e
fortes odores de Mouraria, dum faduncho que substitui com vantagem o estafado
peru de antanho…» [E]
Uma
academia atraiçoada…
Ao saber
que estava sendo rodado um filme de nome “Capas Negras”, criou-se a expectativa
de que ele respeitasse e desse o devido relevo às tradições da academia,
exaltando os seus valores, que tanto prestígio e tanta saudade tinham trazido a
Coimbra ao longo de séculos. E, afinal, o que se via agora? – Uma fita onde os
interesses comerciais tinham ditado um argumento que amesquinhava os estudantes
e as raparigas da cidade; um argumento cheio de erros, alguns deles grosseiros;
e uma injecção de fados e canções de opereta a cheirar a Lisboa, logo ali, na
terra onde Hilário, Menano, Bettencourt, Paradela de Oliveira, Goes e muitos
mais tinham dado voz ao fado de Coimbra.
A academia
fora usada! O seu nome e o peso das suas tradições, bem como o valor
iconográfico das suas capas negras, tinham sido apenas um chamariz para que
alguém ganhasse dinheiro à sua custa e, ainda por cima, maltratando-a.
«A academia sentiu-se revoltada
com justa razão…»
[D]. Mas no meio do torvelinho destas emoções, ainda que a generalidade das
críticas fossem endereçadas a Armando Miranda e seus colaboradores directos,
também a República Rás-Teparta não deixou de ser visada. Sendo uma República de formação ainda recente, no mínimo, terá sido
ingénua ao aceitar que uma boa parte das filmagens decorresse no seu seio sem conhecer o argumento e confiando apenas em que, depois das filmagens concluídas, Armando Miranda cuidasse «de saber da (sua) opinião sobre a qualidade das cenas a apresentar» [F].Também terão
concitado contra si algumas más vontades já que, tanto quanto me foi referido, coube-lhes a missão de escolher os estudantes que entraram como figurantes nas
filmagens, havendo quem, gostando de entrar, tivesse ficado de fora.
Uma
academia que não quer ser objecto de feira…
Mas o
que os estudantes da Rás-Teparta não saberiam (a República fora fundada apenas em 1942/43 por estudantes vindos do Norte), é que, ao abrirem as portas a Armando Miranda sem
consultar o resto da academia, estavam a contrastar em absoluto com o que se
passara em 1941 com António Lopes Ribeiro, o qual, querendo fazer um filme
sobre os estudantes de Coimbra mas não dispensando a sua colaboração,
apresentou e discutiu o argumento com os seus representantes, numa reunião a
que assistiu, até, o vice-Reitor Dr. Maximino Correia [G]. Isso mesmo foi
lembrado, três dias depois da exibição do “Capas Negras”, em carta publicada no
Diário de Coimbra pelo estudante de Medicina João Belarmino Soares da Mota, carta da qual transcrevo a seguir um pequeno extracto [H].
«Há anos, António Lopes Ribeiro,
quis fazer um filme sobre a história da Academia coimbrã. E no Salão Nobre da
A. Académica falou do seu projecto aos estudantes.
«Respondeu-lhe, por estes, o então aluno da Faculdade de Medicina, Fernando Namora, chamando-lhe a atenção para certos pontos que o realizador cinematográfico deveria observar ao tratar de tal assunto.
«António Lopes Ribeiro tinha acentuado o condicionalismo a impor ao filme, por motivos de ordem comercial.
«Fernando Namora respondeu que a Academia de Coimbra não desejaria ser tratada como objecto de feira.
«E tudo ficou por aí.»
«Respondeu-lhe, por estes, o então aluno da Faculdade de Medicina, Fernando Namora, chamando-lhe a atenção para certos pontos que o realizador cinematográfico deveria observar ao tratar de tal assunto.
«António Lopes Ribeiro tinha acentuado o condicionalismo a impor ao filme, por motivos de ordem comercial.
«Fernando Namora respondeu que a Academia de Coimbra não desejaria ser tratada como objecto de feira.
«E tudo ficou por aí.»
Este episódio passado em 1941 mostra bem o denodo com que os estudantes de Coimbra de então defendiam o legado que lhes fora deixado por séculos de história; e ajuda a compreender o calor posto na sua defesa em toda esta saga do “Capas Negras”.
Zé Veloso
Zé Veloso
[A]“O
filme negro da academia”, rubrica “Arrufadas de Coimbra”, in “Sempre Fixe” de
29/5/1947
[B] Rui
Vieira Miller, “O escândalo de Capas Negras”, in “Via Latina” de 10/07/1947
[C] AMNunes,
“Coimbra é uma lição” in “Guitarra de Coimbra (Parte I)”, http://guitarradecoimbra.blogspot.pt/2006/08/coimbra-uma-lio-rainha-incontestada-e.html
[D] “Crónica
de Cinema. Capas Negras”, in Diário de Coimbra de 21/5/1947
[E]
“Carta do Presidente da Direcção da Associação Académica de Coimbra ao Ministro
da Educação Nacional, in Via Latina” de 10/6/1947
[F] Mário
V. Trêpa, “Crónica dos Descobrimentos da Real República Rás-Teparta”, edição do
autor, Santo Tirso, 2004
[G] António
José Soares, “Saudade de Coimbra” 1934-1949”, Jul, Ago e Nov 1941 e Mar 1942, Almedina.
Nota: O tema é desenvolvido por AJS sob o item “República dos Pardais”, título previsto para o filme que António Lopes Ribeiro não conseguiria realizar.
Nota: O tema é desenvolvido por AJS sob o item “República dos Pardais”, título previsto para o filme que António Lopes Ribeiro não conseguiria realizar.
[H]
Carta de João Belarmino Soares da Mota, aluno da F. de Medicina, in Diário de
Coimbra de 22/5/1947
Fotografia do cartaz do filme obtida do blogue "Restos de Colecção".
Fotografia do cartaz do filme obtida do blogue "Restos de Colecção".
Nota adicionada em 03/12/2022: Na sua versão inicial, este post continha um link para o "YouTube" que permitia visualizar o filme na íntegra. Em data que não sei precisar, esse link foi bloqueado por questões relativas a direitos autorais.
António Nunes refere várias vezes que o varapau era muitíssimo utilizado pelos estudantes, muito mais do que a moca, chegando, até, a questionar por que razão a moca ficou com insígnia de praxe em detrimento do varapau (em tudo mais fácil de adquirir e usar prontamente, pois qualquer cabo de vassoura servia, até).
ResponderEliminarObrigado pelo comentário.
EliminarA questão do varapau é interessante mas António Nunes ao referi-la, deverá estar a falar de tempos mais antigos.
O filme está bem datado: 1946, segundo o cartaz da Queima que aparece logo numa das cenas iniciais. E por essa altura, segundo testemunhos directos que recolhi, o varapau não existia nas trupes. Apenas a moca.
Entretanto, para tirar isto mais a limpo, falei telefonicamente com dois antigos estudantes de Coimbra daquela época (um privilégio, pois que vão sendo cada vez mais raros). Um deles, trupista ferrenho na segunda metade da década de 50. O outro, frequentou o Liceu D. João III na primeira metade da década de 40, estando já na Universidade à data de rodagem do filme; este não era dado a fazer trupes mas teve de fugir delas e, ao que me contou, chegou a enfiar um murro no olho dum chefe de trupe para se safar com sucesso a um rapanço.
EliminarAmbos ficaram espantadíssimos quando lhes perguntei se, no seu tempo, as trupes usavam varapaus. «Mocas sim! Mas varapaus?» Não só nunca tinham visto como nunca em tal coisa tinham ouvido falar.
Tais respostas levam-me a admitir que o uso de varapaus pelas trupes será um “costume de antanho”, referente a épocas bem anteriores à dos anos 40 do século XX já que, a não ser assim, alguma memória de tal prática haveria de ter passado para as gerações seguintes.
Gostei muito de ler!
ResponderEliminarObrigado, Luís, é sempre agradável ter o feed-back.
EliminarAcabei de me deparar com este "post", anos volvidos após a sua publicação, a qual tenho pena de já não poder dar a conhecer a meu falecido Pai, que, à época do "Capas Negras", foi figurante no dito filme, como genuíno estudante de Coimbra . Participou de coração dividido entre os seus próprios valores: o de homem de palavra, cumprindo um pedido que lhe havia sido feito, e o de defensor da nossa Academia (enquanto vice-presidente da Direcção-Geral da AAC e presidente de um dos organismos autónomos da mesma).Sempre me contou que lhe ficara alguma mágoa pela sua participação, pois, na sua inocente tentativa de ajudar a fazer um filme sobre a sua cidade, acabou por, de facto, ver que a Academia e o Estudante de Coimbra acabaram por não ser genuinamente retratados por António Lopes Ribeiro. Essa sua minúscula participação valeu-lhe, apesar de ter sido em toda a sua vida uma pessoa bastante considerada,meia-dúzia de puxões de orelhas de alguns colegas da Academia.
ResponderEliminarAna Sofia Seco,
EliminarMuito obrigado pelo seu comentário tão sentido. Estou certo de que não terá sido apenas com o seu Pai que isso aconteceu. Partiu para o filme convencido de que iria contribuir para a correcta divulgação dos valores académicos e acabou por se sentir traído.