24 novembro 2021

O ESPÍRITO DA TOMADA DA BASTILHA


São quatro da tarde do dia 24 de Novembro de 2021. A esta hora, há 101 anos, os conjurados preparavam-se mentalmente para a última noite de ansiedade, desconhecendo se, daí a 24 horas, estariam vitoriosos ou, quem sabe, a caminho de serem expulsos da Universidade.

Presto-lhes aqui a minha homenagem, republicando a parte final do artigo que escrevi para o n.º 55 da revista “CAPA E BATINA” [1], aquando dos 100 ANOS DA TOMADA DA BASTILHA.

O 25 de Novembro de 1920 foi mais do que o simples assalto a um edifício que se quis tomar para alargar uma sede. Ele foi um grito de revolta que, ao libertar o prédio, arrastou consigo a libertação da própria Academia. Por isso a Tomada do Instituto foi depois, simbolicamente, apelidada Tomada da Bastilha – remetendo para o imaginário da Revolução Francesa –, já que, aos olhos dos estudantes, o Instituto corporizava o poder absolutista daqueles lentes iluminados, distantes e despóticos que não tinham acompanhado o evoluir dos tempos.

E arrombar a porta que separava os andares do prédio foi como que derrubar uma barricada que separava mestres e alunos, e partir para uma vida nova. E à irreverência dos alunos responderam os mestres com a melhor compreensão.

Estes factos, que chegaram até hoje com o seu quê de picaresco que nos faz sorrir, não devem esconder que a Tomada da Bastilha foi um acto de coragem de um grupo de estudantes que se arriscou a pesadas penas, tais como “ser riscado” da Universidade, para que a Academia de então tivesse uma sede decente para a sua Associação Académica, retomando o precedente de dignidade das suas instalações, que se perdera, e deixando um exemplo para as gerações vindouras.

Hoje parece que foi fácil… mas se parece é porque não estivemos lá! Os depoimentos de quem lá esteve, de quem correu os riscos, dizem-nos que houve «nervos crispados» em quem ficou na Bastilha «às escuras, estendido pelos bancos, sobre os bilhares, toda a comprida noite […] vibrando a todo o ruído que o silêncio mais avolumava»; e dizem-nos que alguns «se tornaram lívidos perante o cenário da “batalha” que se aproximava»; e que houve um profundo terror ao partir para a Torre em «quem sentiu, ao querer marchar, que os pés se lhe pregavam ao chão, ao mesmo tempo que um frio lhe inundava a fronte».

Houve medo, sim! Mas houve a coragem de o ultrapassar, porque havia uma causa que os ultrapassava a todos – a sua Associação Académica!

A nossa Associação Académica de Coimbra!

E Fernandes Martins, o principal obreiro da Tomada da Bastilha, viria a ser Presidente da Associação no ano a seguir ao golpe (levando consigo outros conjurados), como o Passarinho o fora já no ano anterior.

E outras Direcções com outros Presidentes se lhe seguiriam, irmanados no mesmo espírito de inconformismo, rebeldia, companheirismo, desapego, entrega e coragem, espírito com que foram levando a Academia de Coimbra, em cada época, a lutar pelos ideais e objectivos que na altura se lhes afiguraram como sendo justos e necessários.

Foi esse espírito que passou de geração em geração. O espírito da Tomada da Bastilha! É por ele que ainda hoje importa celebrá-la!

Zé Veloso

[1] Para ler o artigo completo carregue em cima.

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