26 julho 2010

ALTA DE COIMBRA. DA ANTIGUIDADE AOS DIAS DE HOJE

Perguntei no Facebook se na Coimbra de hoje ainda se diz "vou à Alta" ou "moro na Alta". Queria saber se o conceito de Alta ainda existe e se é sensivelmente o mesmo para todos. E a conclusão foi que, ao contrário do que acontece com a Baixa, cujos contornos e carácter se mantêm razoavelmente uniformes, o conceito de Alta é difuso, remete para as várias épocas da cidade e perdeu claramente identidade nos últimos 50 anos.
E é pena, ainda que inevitável! É pena porque “baixa” todas as cidades e vilas vão tendo: ele é a baixa do Porto, a baixa de Lisboa, a baixa de Águeda… e até a Caixa, que não é terra nenhuma, também tem as suas baixas. Mas Coimbra distinguia-se das demais terras porque, tendo embora a sua Baixa, tinha também uma Alta, cuja importância histórica e cuja identidade se impunha. Em mais nenhuma cidade se dizia "vou até à Alta", frase que ainda era vulgar ouvir nos anos 50 e 60. Cidades há onde se diz "vou ao Castelo" ou "vou à Sé"... Mas Alta, mesmo, só havia em Coimbra! (e nos hospitais, bem entendido).
Mas o que é (ou foi) então a Alta de Coimbra e de onde lhe vem tanta importância?
Se por Alta entendermos a "colina sagrada", poderemos dizer que a sua importância foi desde logo reconhecida pelos primeiros povos que aí se estabeleceram, muito provavelmente os Celtas, os quais terão tirado partido das potencialidades defensivas que o local oferecia. Supõe-se que tenha existido um castro algures na zona que vai dos Gerais ao Edifício das Matemáticas. Outros povos se lhes seguiram e todos terão beneficiado da localização daquele sítio, cuja defesa era facilitada pelas escarpas abruptas do lado do rio e pelo vale profundo que vai da Praça da República à Praça 8 de Maio, ficando apenas a descoberto o acesso pelos Arcos do Jardim, onde, na década de 40, existiam ainda os restos da muralha do castelo de Coimbra, defendendo a entrada na cidadela por esse lado.
Mas Coimbra (AEminio, Conimbriga, Colimbria…) foi crescendo colina abaixo e a sua parte alta foi-se despovoando a favor da baixa e do arrabalde, tal como em muitas outras terras onde a malta se cansou de subir escadinhas e ruelas e os castelos foram ficando sozinhos lá no alto, à espera de virem um dia a ser visitados pelos turistas de hoje.
E assim estaria a nossa “colina sagrada”, não fora em 1537 D. João III, que ansiava por ter em Portugal uma universidade que pudesse ombrear em fama com as de Bolonha, Salamanca e Oxford, decidir recambiar de novo e definitivamente para Coimbra o Estudo Geral. Para sua instalação disponibilizou o próprio Paço da Alcáçova – antiga morada de emires e de D. Afonso Henriques, que à data era residência da família real quando esta se deslocava a Coimbra – o qual passou a denominar-se Paço das Escolas, também conhecido por Gerais.
Foi aquela decisão que transformou radicalmente a vida de Coimbra e o destino do seu bairro alto – a Alta – que à época se encontrava bastante degradado. Citando António Rodrigues Lopes, como resultado daquele evento e da criação paralela de colégios das ordens religiosas, a população subiu em flecha, ao acrescentar-se-lhe mais 3000 escolares e o conjunto numeroso do corpo docente e respectivas hierarquias civis e religiosas. Segundo o mesmo autor, a população de Coimbra passou de 5.220 moradores em 1527 para cerca de 10.000 no decénio 1570/80, ou seja, duplicou em 50 anos.
Mas não se pense que toda esta tropa se espalhou anarquicamente pela cidade: ao invés, escolares e professores ficaram acantonados dentro dos limites da antiga muralha, com ordens expressas para não viverem fora da cidade velha, a antiga Medina árabe, Al-medina, cuja entrada principal ainda hoje guarda o nome de Porta de Almedina.
De faço, a Universidade daquele tempo era um regime de internato à escala da cidade, o qual determinou muitas das tradições académicas que chegaram aos nossos dias e das quais deixo aqui alguns exemplos:
- um “uniforme” que distinguia os estudantes dos demais – traje académico – a que mais tarde se haveria de chamar capa e batina;
- um ritmo diário determinado por um sino que marcava as horas de recolher ao estudo, de tomar as refeições e de avançar para as aulas – a cabra e não só;
- um foro judicial próprio e uma polícia académica a quem cabia zelar pelo cumprimento dos costumes: vestimenta, horários de recolher, escapadelas nocturnas para o bairro baixo – a Baixa. Quando a polícia académica acabou, nos finais do séc. XIX, começaram os alunos mais velhos a controlar os mais novos, dando outra lógica às troupes que já então apareciam…
Estas duas cidades complementares – a Alta e a Baixa – sendo que, aos olhos dos estudantes, a primeira era para o estudo e a segunda para a estúrdia, mantiveram-se imiscíveis até muito tarde. Na Baixa estavam os comerciantes e os serviços, e aí se concentravam, igualmente, a maioria das igrejas e conventos. A Baixa era dominada pela população não estudante de Coimbra, os futricas, e por lá se quedavam a maioria das tricanas. A Alta era dominada pelos estudantes; e as tricanas e futricas que lá residiam aparecem-nos referidas como sendo tricanas da Alta e futricas da Alta, distinção que pressupõem um certo grau de aculturação em relação aos seus congéneres da Baixa.
Os antigos limites da Alta mantiveram-se pelo menos até meados do séc. XIX. Segundo Sant’Anna Dionísio, apenas os estudantes e os lentes, submetidos a votos monásticos, dos colégios dos crúzios e dos diferentes recolhimentos de escolares na rua da Sofia podiam residir fora dos limites demarcados pela Couraça de Lisboa, pela Couraça do Apóstolos (“couraça” que tanto é nome de rua como é pano de muralha) e pela Porta de Almedina. Curioso que não se refiram limites para a retaguarda; mas tal não era necessário, pois que Monte Arroio, Santa Cruz e Cumeada eram quintas nessa altura.
Na década de 40 do séc. XX, a Alta foi alvo do maior crime urbanístico jamais perpetrado em Portugal, quando uma parte de si mesma foi implacavelmente demolida para dar lugar a novos edifícios, para que todo o ensino universitário ficasse concentrado nas imediações dos Gerais, na Cidade Universitária. Uma comunidade inteira de estudantes e futricas, berço e relicário das mais fundas tradições da Alta, foi desalojada de uma só vez, a golpes de picareta e camartelo. A Alta tremeu, vacilou… mas não caiu. O peso da tradição falou mais alto e a Alta, em lugar de sucumbir, alargou os seus limites.
Nas décadas de 50 e 60 o conceito de Alta alargava-se a toda a zona delimitada pelas colinas que se estendem da Conchada ao Jardim Botânico – passando por Montes Claros, Celas e Olivais – e, ainda, à área que vai até à Ladeira do Seminário. Grosso modo, pode dizer-se que a Alta era, à época em que andei por Coimbra, limitada a Norte e Nascente pelo perímetro conjugado das linhas dos eléctricos 4 e 3, englobando uma extensa área em cujo epicentro se situavam a Praça da República e a sede da Associação Académica de Coimbra, mantendo, para Sul, os antigos limites das Couraças e da Porta de Almedina.
Os limites da Alta de então foram plasmados no Código da praxe de 1957 e determinavam procedimentos e limitações que faziam sentido num contexto que eu bem conheci. É que nessa época, tal como séculos atrás, em toda aquela extensa área não se encontrava uma loja de modas, uma ourivesaria, um stand de automóveis, um consultório médico ou de advogado. Tal como séculos atrás, naquela área (naquela "Alta”), estavam as casas de estudantes e os cafés e mercearias de bairro, enquanto o grande comércio, os serviços e as casas menos recomendáveis se quedavam pela Baixa.
Entretanto, passaram-se 50 anos. Coimbra alargou-se ainda mais. As Faculdades deixaram de estar concentradas entre o Botânico e a Sé Velha, encontrando-se hoje os Pólos II e III situados em zonas que o Código da Praxe de 1957 classificava como Baixa... por não pertencerem à Alta.
Não admira, pois, que o conceito de Alta se tenha vindo a diluir, tal como referi no início. Era inevitável. A Alta, que resistiu à mutilação de que foi alvo nos anos 40 para que todas as Faculdades se concentrassem num único local da cidade, viria, ironicamente, a não resistir à criação das “novas Altas”, os novos Pólos Universitários, nascidos a partir das décadas de 70 e 80, por vias da explosão do ensino superior.
Mas é bom que a memória destas coisas não se esqueça, para que Coimbra não fique igual a tantas cidades que se sentem felizes com a sua Baixa porque nunca souberam o que era ter uma Alta.
Zé Veloso

22 comentários:

  1. David Carvalho26 julho, 2010 17:04

    Mais uma grande posta amigo Zé Veloso. Por vezes páro para pensar no quanto as tradições académicas se estão a desmoronar e às vezes penso que as pessoas não se esforçam para as manter. Mas na verdade, muitas delas não se encaixam no actual perfil da "cidade universitária" de hoje. Cada vez menos se vê trupes ordinárias a deambular pela alta. Mas realmente, a alta de hoje não tem a mesma definição, e creio que menos de metade da universidade permanece na alta. O resto dos estudantes fica assim, sem estar sujeitos a trupes. Mas o que fazem as trupes de hoje, se os estudantes de hoje moram na "baixa" e estudam nas "várias altas" de Coimbra? Além de que com uma população universitária de mais de 20.000 alunos, pouco conseguiria fazer. Portanto, hoje em dia muitas das tradições são precisamente e a apenas isso: tradições. Mas até quando se irão manter? O que diferenciará Coimbra depois do seu fim?
    De qualquer forma, é sempre maravilhoso recordar e perceber como tudo faz sentido quando se conhece as origens.

    Um abraço
    David Carvalho

    ResponderEliminar
  2. Micael C. Roque07 agosto, 2010 07:42

    Passo de seguida a transcrever a delimitação praxistica da Cidade de Coimbra, presente no Código da Praxe:
    "TITULO XXI
    Dos limites da PRAXE
    Artigo 70º
    1. Constitui Alta a parte central da cidade, delimitada por: Arco de Almedina, rua Fernandes Tomás, Calçada da Estrela na parte
    em prolongamento com a rua Fernandes Tomás, rua da Alegria, Estrada da Beira, Ladeira do Seminário, Alameda Dr. Júlio Henriques
    até à confluência com a Avenida Dr. Marnoco e Sousa, Avenida Dr. Marnoco e Sousa, Avenida Dr. Dias da Silva, rua Dr. Bernardo de Albuquerque, rua Dr. Antônio José de Almeida, rua Ocidental de Montarroio, rua da Manutenção Militar, rua da Fonte Nova e rua Corpo de Deus. Não serão parte integrante da Alta: A parte gradeada da rua Corpo de Deus junto à rua Visconde da Luz, a delimitação entre a rua da Fonte Nova e a rua da Manutenção Militar é feita pela linha ideal que une o extremo do gradeamento da rua da Fonte Nova e a esquina da Manutenção Militar;
    2. Pertencem à Baixa: O Penedo da Saudade, a Rua dos Combatentes
    da Grande Guerra, o Bairro Norton de Matos; o Parque
    da Cidade, o Largo da Portagem e a Av. Emidio Navarro; a Ponte de Santa Clara entre o meio e a margem direita do Rio Mondego; as Ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz e Sofia; a Praça 8 de Maio; a rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, a rua das Figueirinhas; o Pátio de Inquisição e o Largo da Manutenção Militar.Todos os locais, que estando dentro dos limites definidos
    no presente artigo, não sejam parte integrante da Alta.
    3.Para efeitos de PRAXE são considerados os seguintes limites para a cidade de Coimbra: A ponte de Santa Clara entre o meio e a margem direita, Avenida Marginal até à Casa do Sal, Estrada de Coselhas até à circular interna, Penedo da Meditação, rua Afrânio Peixoto, rua Brigadeiro Correia Cardoso, Avenida Dr. Elísio de Moura, Avenida Fernando Namora até à rotunda com a rua da Casa Branca, esta rua até ao cruzamento com a Estrada
    da Beira, daí até ao cruzamento com a Avenida Mendes Silva, a Avenida Mendes Silva até a Rotunda da Fonte da Talha, a rua Pedro Hispano, a rua do Rebolim, a rua de Vila Franca, a sua linha de prolongamento imaginária até ao Rio Mondego, margem direita e este até ao Parque da Cidade, Parque Dr. Manuel Braga, inclusivé;
    4. Considera-se ainda, para efeitos de Praxe como pertencente
    à cidade de Coimbra, o espaço delimitado pelas seguintes
    artérias: Avenida de Conimbriga, Avenida Dr. João das Regras, Estrada da Guarda Inglesa e a rua Luís A. Verney."

    As Trupes - ordinárias ou extraordinárias - tem total poder de actuação nesses limites. A unica diferença existe na hora de recolher de cada grau hieirarquico sujeito a ela...

    Com toda a minha estima.

    ResponderEliminar
  3. Ricardo Figueiredo08 agosto, 2010 19:38

    Meu caro Zé Veloso
    Mais uma vez, um interessante tema que me toca muito, assim como a outros, nascidos na ALTA de Coimbra, no seus limites mais restritos (históricos?), os chamados SALATINAS.
    Nós estávamos na ALTA, ali vivemos enquanto nos deixaram. Depois, no Bairro de Celas, mantiveram-se/mantêm-se as tradições da ALTA (fogueiras de S.João, Feira dos Lázaros).
    Saberás que este assunto tem motivado investigadores/historiadores e, daí, a discussão sobre quais os seus limites geográficos mais primitivos.Existe bibliografia diversa resultante dos “Encontros” e,ainda,Salatinas dedicados e estudiosos que têm mantido e motivado as pesquisas. Com alguma regularidade, outros “carolas salatinas” têm tocado a reunir os ainda vivos (almoços e passeios locais) e a lembrar os falecidos (homenagem, placas, publicação de livros), como a “ Calmeirão”,Flávio Rodrigues,Amélia Janny (1842-1914).Outro Salatina- que estejas em paz, Zolino Figueiredo—recolheu, para publicação, os poemas da Janny.
    Para mim, a primeira dezena de anos (1936/46), foi vivida na ALTA, entre as Ruas dos Anjos, de S.João e do Forno. Ir à Baixa, era fugir à disciplina familiar. A nossa ALTA, era limitada pelos locais da brincadeira (Largo da Feira,Largo Marquês de Pombal, Largo do Borralho, Largo do Castelo, Rua Larga).Na idade pré-escolar, alguns, poucos, alargaram os horizontes saindo, diariamente, da ALTA, até ao Jardim Escola João de Deus e, depois, na primária, até à escola masculina (Prof. Carmálio e esposa) da Boavista, na Rua do mesmo nome. As Festas da Rainha Santa, proporcionavam, nos anos pares, aos “cruzados” da catequese da Sé Nova, o conhecimento de Stª. Clara, na outra margem.Outros, em “fugas” ou em companhia familiar, davam o salto à Praia Fluvial do Mondego, enquanto existiu. A Romaria do Espirito Santo era outro motivo de saída da ALTA. Depois, feita a primária e os 10 anos de idade, já era Coimbra, nos seu todo, pois o mercado de trabalho e outras motivações mais agradáveis estavam à espera. Este o registo de vivência dos chamados “miúdos/garotos”da ALTA pois que, também, ali viviam os “meninos” de famílias mais aconchegadas (professores universitários, funcionários) que terão outro historial.
    Para o Salatina da Alta recordar o “terreno”da sua infância, basta ler “Coimbra Antiga e Moderna-1886-Borges de Figueiredo,também Salatina, pag.213 e seguintes Estão lá, e ainda nos anos 40, as nossas ruas, os prédios e os Colégios que então conhecemos, alguns já em ruínas,mesmo antes das demolições.
    O nosso, SALATINAS, limite de ALTA será mais próximo de” Couraça de Lisboa, Santo António da Pedreira, Rua Borges Carneiro, Beco das Condeixeiras, Rua do Loureiro, Rua Doutor João Jacinto, alto da Couraça dos Apóstolos, Largo Marquês de Pombal e Praça D. Dinis”(http://guitarradecoimbra.blogspot.com/2006/12/museu-digital-museu-virtual-olhares_7466.html).Ainda que,alguns, baptizados na Igreja da Sé Velha (freguesia de Almedina-saudoso e distinto Padre Melo), seriamos Salatinas pelo local do nascimento (ALTA) até à criação da freguesia da Sé Nova.
    Notar, assim, que os limites da Alta dos futricas (Salatinos) ultrapassava os da Alta dos Estudantes, mas não entra nos dos Chibatas.
    Não sei o porquê de “chibatas” e discute-se/investiga-se o porquê de “salatinas”. Poderá acontecer que o tema traga a terreiro,neste teu agradável espaço, os conhecedores desta problemática.

    ResponderEliminar
  4. Bem sinceramente não sei como e o que era considerado a Alta dos anos antes da destruição. A verdade é que, nascendo muito depois disso, e fora dos limites que aqui alguns falam, eu continuo a dizer, e com muito orgulho, que nasci, cresci e vivo na ALTA. E o mais interessante é que as pessoas identificam logo a zona da alta. Não vivo nos "limites dos salatinas" até porque para mim, e apesar de sempre me interessar a história, nunca ouve distinção entre salatinas e chibatas. Eu sou chibata com muito orgulho. Até porque de um "bairro" para o outro apenas vai uma rua estreita e pequena.
    O nome chibata por ufania foi atribuído ao bairro como alcunha depreciativa. A alta que se conhecia englobava basicamente os antigos zonamentos configurados pelo Bairro Latino (a Alta dos estudantes) e pelo Bairro Salatina (a Alta dos futricas), deixando de fora os espaços que correm da Sé Velha para baixo (dito “Bairro dos Chibatas”) e as ribas do Quebra Costas.
    Na opinião dos Salatinas, era importante e até crucial haver a distinção entre o Bairro Salatina e o “Bairro dos Chibatas”, Para eles, os salatnas, a Alta não seria de descer tão acentuadamente em direcção ao Sousa Bastos e Governo Civil - "Lá em baixo já era outra coisa"…
    mas a Alta que hoje conhecemos, ou pelo menos o território percepcionado e diria até "oficial" englobava a antiga Ala Universitária, a alta dos salatinas, o Quebra costas e o Bairro chibata até ao governo civil, ou seja a zona muralhada.

    ResponderEliminar
  5. Ricardo Figueiredo22 outubro, 2013 22:37

    A propósito :
    “Verdade é, no Quebra-Costas
    Minha vez escorreguei
    Fui preso por Verdeais
    E à porta Férrea mijei.
    O Galego e o Diabo-Almeida Garrett”1824
    algumas notas:
    1840-08 de Agosto- Designou-se dia para arrematação do arranque, aparelho e condução da pedra dos degraus para a Rua do Quebra –Costas.
    1840-10 de Outubro-Foi nomeada uma comissão composta…..para examinar o local onde se vai erguer a escada da rua de Quebra-Costas e dar o seu parecer referente ao plano de alinhamento da escadaria , se em linha recta ou com uma curva no meio dela.
    1840-12 de Outubro-Ouvido o parecer da Comissão deliberou-se construir a escada da rua de Quebra-Costas em linha recta, com o número de degraus e patins regulares, levantando-se o Beco Central, nivelando-o com o patim correspondente.
    1840-14 de Novembro-Como os m oradores na Rua de Quebra-Costas reclamassem contra as escadas a construir, mandou-se o mestre de obras marcar nas paredes dos edifícios a altura que ocupará cada lanço de degraus da escada, para melhor se informar a Admnistração-Geral.
    1840-19 de Dezembro- Tomou-se conhecimento ter o Conselho do Distrito aprovado o plano da obra das escadas da rua Quebra-Costas.
    1863-26 de Março- Manda-se pôr a macadame a rua entre as escadas de Quebra-Costas e o Arco de Almedina
    In-Anais do Município de Coimbra (1840-1869)-Armando Carneiro da Silva 1972-1973

    ResponderEliminar
  6. O meu nome é Mário Moura. Ando a pesquisar elementos para fazer uma biografia de um médico dos Açores (de onde sou e estou) que estudou em Coimbra entre 1865 e 1879.
    Frequentou o Liceu Nacional de Coimbra entre 1865 e 1868 e andou os restantes anos a tirar (aos ziguezagues?) Medicina.
    Sabe-me dizer se há algum Anuário do Liceu de Coimbra para os anos em que ele (José Nunes da Ponte andou pelo Liceu: 1865 e 1868)?
    Nas suas pesquisas encontrou algo sobre esta pessoa?
    Muito agradecido

    Tenho um blogue, onde vou tratando disso, teia muito gosto se me adicionasse ou se eu pudesse adicionar o seu.

    mariofernandooliveiramoura.blogspot.pt

    O nome do Blogue: José Nunes da Ponte: biografia em construção de um republicano do Porto.

    Mário Moura

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Mário Fernando Moura,
      José Nunes da Ponte é um nome desconhecido para mim mas vou ver que pistas lhe poderei dar.
      Você tem tem página no Facebook? Isso ajudaria...

      Eliminar
  7. A todos um grande abraço e um profundo bem haja pela partilha do vosso conhecimento, sou bisneto do guitarrista Flávio Rodrigues e residente na casa onde ele viveu os seus últimos dias. Sou salatina com muito orgulho e tenho pena que a informação sobre este tema seja escassa bem como da história do bairro de celas...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Jimmy Dobermann
      Deixe-me, para já, dar-lhe os parabéns por ser bisneto do grande mestre da guitarra de Coimbra Flávio Rodrigues.
      Tem razão quando diz que a informação sobre os Salatinas é escassa mas parece-me que, apesar de tudo, existe alguma. O que andará é dispersa. Por exemplo, não conheço a existência de nenhum estudo, tese de mestrado, por exemplo, que agarre no tema e o descasque nas suas várias vertentes.
      Mas é muito sintomático que a característica de ser-se salatina - estando-se em Coimbra ou em Lisboa (onde tenho um amigo salatina) não tenha desaparecido ao fim de 70 anos da destruição do bairro Alto.
      Aqui nestas crónicas nunca abordei o tema, embora ele apareça aflorado quer nos comentários desta crónica, quer nas crónicas "Fogueiras de S. João" e "Estudantes contra Futricas. Uma história de Índios e Cow-boys?".
      Um abraço,
      Zé Veloso

      Eliminar
    2. Ricardo Figueiredo26 fevereiro, 2016 20:08

      Meu caro "confrade" Salatina. Vivi no Bairro de Celas, desde o inicio da sua ocupação, vindo da Alta-Rua dos Anjos, onde nasci (1936), depois da Rua de S.João e da Rua do Forno, ainda na Alta. Conheci o seu bisavô e restante família, desde da Alta e, depois, no Bairro. Em Coimbra, realizam-se almoços de convívio (com hiatos mais ou menos largos) organizados pelo Carlos Alberto, António Figueiredo e outros salatinas. A nossa geração, nascida antes de 1940 começa a ter poucos representantes (eu estou na vésperas dos 80)O meu abraço Ricardo Figueirfedo

      Eliminar
  8. O meu nome é Filipe Sampaio, sou neto da Eduarda Chicória, Filha da Graciana e do Flávio. Fui criado na Rua do Castelo nº 2, pela Victória e pelo Flávio, também filhos da Graciana e do Flávio Rodrigues e, portanto, irmãos da Eduardo e meus Tios-Avós. Pouco sei da História do meu Bairro, só o que os meus familiares e vizinhos contam. Mas há algo que me intriga sobre o Bairro que ninguém tem acesso, a dita vendo do terreno à câmara de Coimbra pelo Conde e o porquê de não poder ser vendido e etc...
    A Câmara Municipal nem um texto tem no seu site sobre o Bairro de Celas, nem da sua História e acho que deveria ser criado algo do género para não morrer a informação!!! Um grande abraço a todos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Filipe Santos,
      Obrigado pelo seu comentário.
      Não sei como lhe responder sobre essa questão da venda do terreno.
      Talvez alguém, que não eu, possa vir aqui dar-lhe uma explicação.
      Um abraço,
      Zé Veloso

      Eliminar
    2. Ricardo Figueiredo06 abril, 2016 21:24

      Boa noite
      Só agora tive a disponibilidade para abordar o tema:
      1- No Bairro, talvez, ainda exista algum ancião/anciã, salatina (nascido na antiga Alta). Os nascidos no Bairro de Celas, ouviram e não nasceram e não viveram na Alta, por período mais curto ou mais longo. Notar que as demolições começaram nos anos 40, logo os salatinas resistentes estão entre 70-80 anos. Os que ainda restam estão espalhados pelo País, alguns ,ainda, na zona de Coimbra, que motivam, de quando a quando, encontros dos sobreviventes .
      2- Para conhecer alguma história da Alta, consultar A ALTA DE COIMBRA-HISTÓRIA-ARTE-TRADIÇÃO, PUBLICAÇÃO DO GAAC-1º.encontro-1987, e/ou a publicação da As. Antigos Estudantes Coimbra, com fotos e explicações, e outras obras. É só começar...
      3- Sempre ouvi dizer que o Conde tinha cedido/vendido (?) com limitação ao fim -alojamento dos deslocados da Alta, habitação, com condições de habitabilidade que não se tinham na Alta.
      Com abraço

      Eliminar
  9. Ricardo Figueiredo27 abril, 2016 20:08

    Boa tarde
    Para melhor informação sobre "salatinas", -Acerca da palavra "salatina"- Falcão Machado. In Revista de Portugal-Série A- Língua Portuguesa- nº. 157 Vol.XXII pag.249-253 Julho de 1987

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Ricardo, foste tu a primeira pessoa a quem ouvi pronunciar a palavra "salatina" e dizias-me tu, nessa altura, que desconhecias a sua raiz.
      Aliás, num comentário teu que está mais acima, feito há quase 6 anos (!), escreveste «discute-se/investiga-se o porquê de “salatinas”».
      Será que acabaste por encontrar a resposta?
      Um abraço,
      Zé Veloso

      Eliminar
    2. Ricardo Figueiredo23 setembro, 2016 21:59

      Meu caro amigo
      Como “salatina” (1936-Rua dos Anjos, nº.6), tenho procurado encontrar, nas publicações de credenciados investigadores, sobre Coimbra, algo sobre o tema. O artigo, antes indicado, é o mais completo que conheço. Como não será fácil, para alguns dos interessados no blog, aceder à Revista onde foi publicado, passo a resumir as conclusões:
      Acerca da Palavra Salatina, por F. Falcão Machado
      1- Primeiramente, regista que não figura em Bluteau (1720), Viterbo (1799), Morais (1813),Faria (1849), Vieira (1874), mas, de facto, se encontra no “Dicionário de Cândido de Figueiredo, nos seguintes termos :Salatino: moiros ou corsários de Salé.
      2-O erudito filólogo (C.F.) foi consultado se conhecia o termo, usado pelos rapazes no dia da procissão dos Passos, tendo sido esclarecido que é assim que os do bairro baixo chamam aos do bairro alto.
      3-Figueiredo diz não o conhecer (o termo) e jura que nunca a salatina lhe chegara aos ouvidos.
      4-Figueiredo …..consultou três contemporâneos….Silveira da Mota, Santos Valente, Alberto Teles, e nenhum a ouvira. E conclui tratar-se de vocábulo de gíria muito moderna.
      5-Porém, Joaquim Martins de Carvalho (O Conimbricense)…..esclarece que a palavra não é agora muito usada em Coimbra… sempre a ouvira como expressão de uso imemorial na cidade. Pretendeu esclarecer o termo… se salatina não será alteração de bairro latino?
      6-Candido de Figueiredo, em vez de bairro latino aventa que salatina seja derivação de sala latina.
      7-Intervém a Gazeta Nacional com alegações históricas relativas à propaganda para a terceira cruzada, motivada pela conquista de Jerusalém, em 1187, e supõe que salatinas seja corrupção de Saladinos.
      8-O “Conimbricense” volta à liça, e pergunta se Salatinas não provirá de Saletinos, dado que os rapazes de Coimbra se injuriavam classificando-se, mutuamente , de piratas.
      9-Candido de Figueiredo considera, definitivamente, salatina como alteração de saletino, natural ou procedente de Salé, como figura no seu dicionário.
      Perante esta argumentação, o autor (J.F.M) “ Há que escolher uma origem mais conforme com a natureza das relações em causa; e ficam em evidência os piratas saletinos de Salé com bem como os ferozes saladinos do temível Saladino.”
      10- O auto(J.F.M.) apresenta uma nova hipótese:
      “Em 30 de Outubro de 1340 feriu-se a grande batalha do Salado…..e na qual tomaram parte muitos combatentes coimbrões. Mais,…..D. Afonso IV nobilitou e distinguiu muitos dos que nela se comportaram heroicamente.
      …. o adjectivo alatinizado que designaria o combatente desta batalha devia ser salatino, no feminino salatina (hoste salatina), com a mesma aplicação funcional às lutas do rapazio sem corrupção, como o étimo fosse saletino.
      …… que surgiu em discurso apologético, panegírico de actos e feitos de gente de Coimbra……aí pelos fins do século XVIII ou princípios do século XIX.
      Quanto às origens das lutas entre garotos da Alta e da Baixa nada se sabe nem quando começaram.
      O autor (1904-1993) refere “ um dia fomos convidados por outros grupos de garotos de outros bairros da chamada Alta, ou Bairro Alto, de Coimbra, para ir combater os garotos da Baixa e lá fomos”.
      Nós, também, (1943) quando na Escola Primária da Boavista, na Alta, (Salatinas) contra a Escola Anexa, Escola de Moura (?), no Largo da Sé Velha (Chibatas). Mas, sem rancor….
      Abraço

      Eliminar
  10. Ricardo Figueiredo03 outubro, 2016 11:03

    Bom dia, caro Zé Viegas
    Quanto ao tema "chibata" não encontrei, ainda, quem se tenha dedicado ao tema. Boa ocasião para um nosso amigo "chibata" o fazer.
    Abraço
    Ricardo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aguardemos que o faça... mas tu também podes dar uma mãozinha.
      Abraço
      Zé Veloso

      Eliminar
  11. Boa tarde a todos os salatinas,este também é de 1936.Acho interessante este tema,pois ao ler consigo ver-me no Largo da Feira,na Rua Larga,ou ajogar futebol no chamado largo do museu.ou ainda a descer a rua Sá de Miranda agarrado ao eletrico.A fonte dolargo da feira,as pipas de vinho,que salvo o erro ficavam muito tempo na descida que vinha do castelo em direção ao largo da feira.Por agora é tudo mas não quero acabar sem me identificar,pelo menos paera alguns.Amigo Figueiredo acho que fomos colegas na escola da Boavista.Sou Augusto Fernando Craveiro e morava na rua doloureiro.Até uma próxima oportunidade.SAUDAÇÕES SALATINAS.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Augusto Fernando Craveiro,
      Só hoje publico o seu comentário porque não dei imediatamente conta do seu aparecimento. As minhas desculpas.
      Muito obrigado pelo seu comentário, escrito com o sentimento de quem continuou a viver na Velha Alta mesmo depois das demolições.
      Vou informar, desta sua mensagem, o meu amigo Ricardo Figueiredo.
      Se quiser enviar-me o seu endereço de e-mail, ficar-lhe-ia muito grato.
      Zé Veloso
      jveloso700@gmail.com

      Eliminar
    2. Caro Augusto Fernando Craveiro,
      Já dei novas suas ao meu amigo Ricardo Figueiredo, o qual passou palavra ao irmão António. Ambos gostariam muito de retomar o contacto consigo.
      O e-mail do Ricardo é mfrfigueiredo@yahoo.com.
      Um abraço,
      Zé Veloso

      Eliminar
    3. Amigo Zé Veloso fico muito agradecido pelo contato que me porpocionou dos manos Figueiredo,se precisar de alguma informação de Aveiro,caso esteja ao meu alcance

      Eliminar

Os comentários são bem-vindos, quer para complementar o que foi escrito quer para dar outra opinião. O saber de todos nós não é de mais.