07 março 2010

ÀS VOLTAS COM O LARGO DE SANSÃO

Dos vários comentários que recebi via e-mail sobre AS CHEIAS DO MONDEGO, retive um em que me era pedido para esclarecer melhor essa coisa de a Igreja da Santa Cruz se encontrar hoje ao nível da Praça 8 de Maio, enquanto num passado não muito distante se encontrava alguns degraus abaixo dela (7 ou 12 consoante as fontes consultadas).
Como é evidente, a igreja sempre esteve à cota topográfica que tem hoje. A Praça 8 de Maio – conhecida como Largo de Sansão até 1874 – é que não, tendo a sua cota variado ao longo dos tempos, consoante as conveniências urbanísticas.
Assim, em 1540 subiam-se 4 degraus para entrar na igreja. Mas o largo foi sendo alteado e, em 1796, já o largo e a igreja se encontravam ao mesmo nível. E como o Mondego continuasse a entrar impiedoso pela igreja adentro – a altura das cheias era medida já na antiguidade pelo nível que atingiam as suas águas junto ao altar-mor – quando, em 1858, a Rua Visconde da Luz foi traçada, alteou-se a metade do Largo de Sansão do lado da Igreja da Santa Cruz, de modo a fazer-se como que um dique que travasse as inundações (o que obrigou a fazer uma escadaria para descer atè à igreja).
Com as obras de regularização do alto Mondego (barragens da Raiva e da Aguieira), o Bazófias perdeu a bazófia, a baixa de Coimbra não mais foi invadida pelas suas águas e a Praça 8 de Maio pôde voltar a ser rebaixada, passando a ter uma fisionomia mais parecida com a que tinha o Largo de Sansão antes das obras de 1858. E é assim que quem entra hoje na Igreja de Santa Cruz volta a ter de subir, ainda que apenas 2 pequenos degraus.
As fotos referem-se às cheias de 1946, onde dá ideia que a água terá vindo da Alta, descendo a Sá da Bandeira. Mas ilustram bem a topografia da Praça 8 de Maio naquela época, topografia que se mantinha quando nos anos 50 e 60 eu calcorreava as ruas de Coimbra.
Recordo-me bem que, a separar a parte alta da parte baixa da praça, havia uma grade de ferro. Que junto a essa grade, do lado de cima parava o eléctrico 2, trazendo os passageiros que vinham da Estação Velha. E que do lado de baixo aguardavam os táxis, à espera de mais um servicinho... Se fosse hoje, diríamos que a Praça 8 de Maio era assim uma espécie de estação inter-modal! A estação inter-modal de Santa Cruz!
Zé Veloso

PS: Junto duas fotos da Praça 8 de Maio (Largo de Sanção) nos dias de hoje, mostrando o rebaixamento da praça para a sua cota original, bem como as rampas de acesso de um e de outro lado da praça.

4 comentários:

  1. Ricardo Figueiredo23 março, 2010 15:25

    Meu caro Veloso
    Creio ter sido o primeiro, com minha mulher /Fernanda/Ricardo Figueiredo a entrar no teu blogue.Não importa se fui ou naão.....
    Para mim,tens um bom nome para o blogue e nós temos um interessado autor/investigador,"coimbrinha". Não deixarei de te acompanhar, como amigo, contemporâneo na UC,como "salatina" de Coimbra
    O artigo lembrou-me que, em 1946/47, tendo iniciado a minha vida de trabalhador, com os meus 10/11 anos, no escritório do Frederico A. Franco, agência automobilistica, ao lado da Direcção de Viação e Cervejaria Oliveira, chegueiao fundo da Couraça de Lisboa-vindo de Celas, a pé,já não pude avançar.A água chegava ao "mata frades e ao nivel do piso do coreto do parque.Não de viam os bancos do jardim (parque).O patrão, alugou um pequeno barquito e fui até ao escritório, no piso térreo, corredor-ele estava preocupado com a pasta de selos fiscais, de 20 e 50 escudos-Consegui entrar e vi-- a pasta, sobre um dos balcões. Tinha-me esquecido, na vespera, ao fechar a loja, de a arrumar, em armário fechado e, agora, ..inundado. Regressei com a pasta ilesa.
    Conclusão: rapaz, merecias dois tabefes, por te teres esquecido de arrumar a pasta ...e, mereces o pequeno almoço, por teres assumido o risco de andar no barco..Vamos ao pequeno almoço...
    Bons tempos, mesmo aos 10/11 anos, a ganhar 100 escudos, mais 15 tostões quando andava de electrico (sobravam 7 , pois vinha a correr/pendurado)
    Grande abraço , continua e desculpa a intromissão com factos pessoais.
    Já agora: o que será um "salatina"

    Ricardo Figueiredo

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  2. Viva, Ricardo!
    Um "salatina"? Nunca tal houvera visto! No Lello Universal, "Salatinos" é um nome depreciativo que o rapazio de Coimbra dá aos seus adversários. Conta lá o resto...

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  3. Ricardo Figueiredo31 março, 2010 22:48

    Pois, eu sou "salatina"
    Nascido na velha ALTA, burgo em redor da UC,área mais restrita, dentro dos limites das muralhas Castelo-Rua dos Anjos (onde morava o célebre Dr. Patacão)depois Rua de S.João (ao cimo, na esquina, esquerda de quem sobe-o PIRATA-e , depois, a rua do Forno , junto ao berço da REPUBLICA BACO.
    Discute-se,ao que sei , a origem do nome "Salatina" Contrasta com futrica que se opunha a estudante, pois com eles convivia.Guerreavam os "chibatas", os que moravam na zona da Sé Velha.
    Salatina virá de Saladino?

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  4. Ricardo Figueiredo02 abril, 2010 11:36

    Bom dia, Veloso
    Salatina, terá origem em SALÉ (Marrocos)?? Porto de corsários
    mouros,independentistas,lutadores pela liberdade,golpistas, ladinos...
    Questão para provocar os que mais saberão e poderão vir ao teu blogue, dar uma ajuda
    Era habitual, nos idos de 40, a malta da escola da Boavista (Alta) fazer umas "corridas" às escolas da Sé Velha (Moura e Anexa) e, por vezes, arriscar mais, para invadir o território
    dos outros e espantar as miúdas com tais feitos.
    Não se fazia à escola feminina do Largo da Feira, pois estava no nosso território
    Não era o Bulling actual
    Abraço

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